domingo, 22 de novembro de 2015

Terror na França

O mundo acompanha estarrecido a dor dos parisienses, que ainda não se refizeram dos ataques ocorridos na sexta-feira, 13 (a data parece ter sido escolhida a dedo). A cidade-luz permanece envolta em sombras e não se sabe por quanto tempo assim vai ficar, pois a perspectiva é de que haja outros ataques. Viver na iminência de novas explosões será a dura prova que eles terão de suportar nos próximos meses.
A TV vem mostrando à exaustão as imagens dos atentados: pessoas correndo, em pânico; corpos dilacerados envolvidos em lençóis; familiares chorando depois de confirmar seus mortos. O pior é a sensação de que o que aconteceu era inevitável. Nunca dá para saber onde as bombas vão estar, de modo que é inútil tentar fugir delas. A única medida eficaz para isto seria não sair às ruas, o que é impossível especialmente para os habitantes da cidade que popularizou a figura do flâneur (o andarilho urbano).
O terror é cego, ilimitado, e não discrimina os alvos da sua causa obscura. O ódio que sente pelo ser humano só lhe permite distribuir as pessoas em dois grupos: o dos que estão com ele e o dos que o combatem. Não há coerência nem piedade na escolha das vítimas. É como o pai que pune o filho rebelde e deixa incólume o mal-educado. Isso é injusto e provoca indignação, mas é mesmo a indignação que o terror procura despertar.  
Investigações revelaram que pelo menos três dos terroristas mortos tinham cidadania francesa. Esse é um dado assustador, pois mostra que de nada adiantará fechar as fronteiras. O inimigo não está fora, vive no próprio país. Sabe-se que muitos jovens franceses se bandearam para o lado dos terroristas e com eles aprenderam as táticas com que costumam dizimar seus inimigos. Antes passaram por uma doutrinação que não seria possível se esses jovens não estivessem vazios de valores e ideais. Na falta do que seguir, abraçam qualquer doutrina que acene com uma vida de aventuras e conquista do poder. Os jovens são particularmente sensíveis a esse tipo de apelo.
A França se orgulha de rejeitar tudo que limite o direito à expressão. É a pátria do livre-pensamento, berço de Rousseau e Voltaire -- o primeiro, criador do individualismo moderno; o segundo, um crítico ferino dos dogmas que entravam o exercício da razão. Tanta liberdade, contudo, não tem sido capaz de reter esses jovens, que trocam o legado iluminista pelo obscurantismo e a intolerância.
Há alguns meses a França passou por trauma semelhante, com o assassínio dos jornalistas do Charlie Hebdo, e promoveu uma bela manifestação cívica. Nela houve discursos e se cantou a Marselhesa. Os disparos inimigos despertaram um fervor patriótico que parecia blindar a nação contra o que mais pudesse vir.
        Infelizmente não basta a retórica para impedir a progressão do terror. De nada adiantam os discursos se eles não vêm acompanhados de medidas eficazes para prevenir novos atentados. A tragédia que o país está vivendo prova isso. O presidente François Hollande enfim mudou o tom; falou em atividade de guerra e na necessidade de uma vigilância constante. Este vai ser o cenário dos próximos meses.

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