As redes sociais são uma espécie de
imprensa informal. Nelas se encontra, de maneira menos elaborada, tudo que
aparece nos jornais: notícia, colunismo mundano, consultório sentimental e breves
juízos que lembram as colunas de opinião. Têm além disso a confissão e o
desabafo, o que constitui uma vantagem em relação à imprensa. Ninguém encontra
no jornal relatos de doenças, malogros econômicos, fracassos amorosos e de outras
ocorrências que infernizam a vida do ser humano.
Nem todos se dispõem a essa catarse
pública, é verdade. Há quem use as redes como uma forma de divulgar a sua
produção artística, intelectual, ou os seus negócios. Esses no entanto são
exceções. A maioria as utiliza para partilhar a sua vida com os outros. E
sobretudo para ver o que os outros dizem e saber como eles estão. As redes são
basicamente uma forma de saciar a nossa natural curiosidade pela vida alheia,
que de algum modo é também a nossa.
No afã de se confessar, nem todos
atentam para o que expõem a confidentes tão heterogêneos. Entre eles há amigos
que conhecemos, mas a maioria é de estranhos que seguimos (ou nos seguem) por
curiosidade, generosidade ou mesmo vaidade. “Eu quero ter um milhão de amigos”
parece resumir o propósito de grande parte dos que procuram,
indiscriminadamente, multiplicar seus seguidores. E a estes expõem suas dores e
alegrias, como se elas lhes interessassem.
Fazem isso por carência ou
exibicionismo? Segundo psicólogos, pelos dois motivos, que na verdade se
confundem. Quem procura se exibir é carente da atenção dos outros. O
exibicionista, ao fazer uma grande viagem, não se satisfaz apenas com o ganho
de experiência, prazer e cultura que ela traz. Precisa mostrar aos outros que a
fez -- não para provocar inveja, mas para que o vejam como protagonista de tal
experiência. O testemunho do outro é um ingrediente indispensável; nada está
completo sem o olhar da plateia, que funciona como um selo de autenticação (há
pessoas que, de tão preocupadas em fotografar, se esquecem de viver o
instante).
Não estou fazendo nenhum julgamento, pois
todos de uma ou outra forma sucumbimos a essa tendência. Já que ela é
inevitável, tratemos pelo menos de escolher a quem vamos exibir nossos pequenos
fracassos ou êxitos. Nem todos, de uma legião interminável de seguidores, serão
capazes de se solidarizar com uma ocorrência que nos aflige ou se alegrar com
um feito que alcançamos. Por isso é bom ser moderado, sobretudo ao relatar o que
expõe uma parte essencial de nós. Às vezes me surpreendo com a imprudência de
muitos quanto a esse aspecto -- uma imprudência que beira o impudor.
Confissão é coisa séria e não deve ser
desperdiçada com quem não lhe dá o valor devido. Antigamente ela se
destinava ao padre, depois passou a ter como destinatário o analista. Mas
ninguém precisa dessas figuras técnicas para abrir os escuros desvãos da alma.
Não há confessionário nem divã que se compare a um ombro amigo – um ombro real,
não virtual, que faça mais do que “curtir” de longe as nossas queixas.
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