domingo, 24 de janeiro de 2016

Do baú (9)

O humor é sério justamente porque combate a excessiva seriedade. Quando tudo fica sisudo demais, nada como contar uma boa piada. Isso relaxa e põe em xeque a pretensa gravidade da situação. Não é à toa que as melhores anedotas são sobre aquilo que mais nos preocupa ou angustia – sexo, religião, casamento, morte. Tratá-los jocosamente é uma forma de se sobrepor à ameaça que essas experiências representam.
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-- Sabe qual é seu problema? Você não ama os homens.
-- Eles merecem?
-- Justamente por isso precisam ser amados. Não há mérito em se amar quem merece.
-- Ah, não me venha com esses conselhos cristãos! 
-- Não são conselhos; não gosto de aconselhar ninguém. Nem são apenas cristãos. São...  humanos. Se o humanismo coloca o homem no centro de tudo, é porque o considera digno de amor. Por que não?
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A culpa muitas vezes leva o homem a confundir confiança com presunção. É preciso escapar dessa armadilha e acreditar em si. Afinal, como diz Paul Johnson, “a confiança é o começo da destreza”.
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As pessoas fazem questão de que uma história seja “verdadeira”, embora considerem insuportável a realidade. O aparente paradoxo se explica: uma coisa é a realidade vivida; outra, a realidade contada. Na ficção, a realidade não dói. É apenas algo que constatamos, sem viver.
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No Brasil o espírito de séquito sobrepõe-se à avaliação do mérito. Os “nossos” são sempre inocentes (vítimas de manobras políticas) e os “outros” são culpados, independentemente do que façam.
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Não sei se há um método comportamental para diminuir a depressão ou se apenas remédio ajuda. No entanto, como a culpa que acompanha o quadro depressivo se agrava com a percepção das próprias falhas, tentar fazer a coisa certa concorre para diminuir o desânimo.
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Quando as coisas passam, parecem inevitáveis. Esse é um processo de racionalização pelo qual julgamos vencer o acaso -- achar que o que aconteceu tinha de acontecer. Ora, nada tinha de acontecer, a não ser depois de ter acontecido.

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O silêncio do inocente