Ao escrever, aja sem cerimônia. A cerimônia
faz o escritor “se encher de dedos” e não definir o que quer dizer. Ela se liga
à angústia da perfeição, que não paralisa só o ato de escrever (querer ser
perfeito é um obstáculo em todos os domínios da vida). Freud liga essa angústia
ao ideal do ego, que constitui a matriz do chamado superego (instância censora
que leva ao sentimento de culpa).
****
Ficou claro nas manifestações do último
domingo que o povo quer honestidade. Ninguém aguenta mais a corrupção, que nos
últimos anos chegou a um nível intolerável. Isso explica a ostensiva presença
da imagem do juiz Moro em cartazes, banners, faixas. O povo já começou a
mitificar o homem, que vem aparecendo como uma espécie de justiceiro implacável.
Ponderemos, no entanto, que como em toda mitificação há também nessa um exagero.
Moro não age só, não decide prender ou soltar conforme seu humor. É um juiz e,
como tal, prolata (é esse mesmo o verbo) suas sentenças com base nos fatos.
****
As cerimônias de casamento seriam mais
honestas se, diante do padre, os noivos trocassem o “sim” pelo “talvez”. Como
isso não ocorre, grande parte deles é levada a iniciar a vida conjugal com uma
mentira.
****
A depressão caracteriza-se por uma
defecção (abandono) do ser. Depois que o
indivíduo sai da crise, imagina não ser mais o que era. Sente a identidade como
um fio tênue, que a custo lhe assegura a autopercepção. Ressente-se de
plenitude. Um dos apelos patéticos que o depressivo faz a si mesmo ou a quem
tenta ajudá-lo é: quero ser eu de novo.
****
Não se deve elogiar um livro pensando
mais no autor do que na obra. Isso explica por que a convivência, ou mesmo a
proximidade, é inimiga da boa crítica. Nossa hipocrisia, por sinal, vem de que
não temos uma cultura que estimula a crítica. Resultado: distribuímos elogios
por generosidade ou, o mais comum, por constrangimento.
****
O ódio do preconceituoso é diretamente
proporcional à superficialidade dos motivos que o inspiram. A consciência disso
o faz intensificar o sentimento de rejeição ao outro; tal sentimento em boa
parte se alimenta do ódio a si mesmo. É um pouco como no ciúme doentio; o
ciumento se detesta por reconhecer a própria insegurança e vinga-se dessa fraqueza
no outro.
****
É impossível negar o poder corruptor do
capitalismo. Ele é tão forte que atua mesmo nos seus inimigos declarados. O Brasil
atual é um ótimo exemplo disso. Direita ou esquerda... Pouco importa se o
dinheiro do povo é roubado com uma ou outra mão. O estrago é o mesmo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário