Outrora as pessoas morriam mais cedo e
nem assim deixavam de fazer as obras que as notabilizavam. Parece que a
consciência da brevidade da vida levava-as a intensificar seu trabalho. Era
como se, intuitivamente, soubessem que não tinham tempo a perder. Ameaçadas por
um número maior de doenças sem cura, não podiam se dar ao luxo de adiar
projetos e sonhos. Nossos poetas românticos, por exemplo, deixavam este mundo
na flor da idade, ceifados pela sífilis ou pela tuberculose, mas as suas obras pareciam
consumadas. Eram o melhor que eles poderiam fazer.
Hoje
é diferente. Graças aos avanços da medicina e da farmacologia, nossa média de
vida aumentou. Não podemos nos queixar de falta de tempo. Quem antes tinha
quarenta ou cinquenta anos se considerava um velho. Hoje o indivíduo com sessenta
sente-se disposto a recomeçar a vida. Supõe que ainda terá muito caminho pela
frente.
Antigamente o desafio era viver mais.
Hoje, é viver melhor. Fala-se muito em qualidade e não em quantidade de vida.
Uma vida longa, mas deficiente, não parece valer a pena. Isso nos remete à
velha questão: o ideal é viver pouco, mas com intensidade, ou viver muito porém
de forma rotineira e insípida?
Muitos alegam que viver da primeira
forma é melhor, mas o que desejam mesmo é permanecer vivos (mesmo que isso
implique enfrentar os contratempos da velhice). Há um consenso segundo o qual
quem vive muito triunfa sobre os que morrem mais cedo. A longevidade aparece
como um troféu que confere ao indivíduo admiração e prestígio, e só os incompetentes
e desleixados se deixam colher precocemente pela morte.
Para ganhar esse troféu é preciso se
submeter a um tipo de corrida diferente, no qual ganha quem chega por último.
Diante disso, é melhor não se apressar. Certamente a melhor fórmula para obter
esse prêmio é viver com moderação, evitando o estresse e outros males que nos
impulsionam a uma existência trepidante. São grandes os malefícios que essa
trepidação traz ao nosso organismo.
Viver devagar, no entanto, é um enorme
desafio num mundo em que se exalta a excelência e o acúmulo de realizações.
Como botar um freio na rotina se somos permanentemente convocados à competição
e, em vista disso, a nossa agenda está sempre cheia? Quem tenta frear o ritmo
não raro se sente excluído. Ao buscar se desprender das amarras que o vinculam à
engrenagem do dia a dia, é tomado pelo tédio e a insatisfação. Conheço gente que,
embora se queixe do excesso de trabalho, não suporta os domingos e feriados. Acha
que neles falta alguma coisa.
O fato é que, mesmo com as cobranças do mundo moderno, hoje vivemos mais. Isso não significa que vivamos melhor nem que o maior tempo de que dispomos nos leve a realizações significativas. Todos temos alguns momentos-chaves, em que as coisas acontecem, e outros em que nos limitamos a “tocar” biologicamente a vida. Ninguém garante que, se vivesse mais de 24 anos, Castro Alves teria feito poemas superiores aos que fez. Viver mais também não deixa de ser um problema; implica um desafio maior para a conquista e a manutenção da felicidade.
O fato é que, mesmo com as cobranças do mundo moderno, hoje vivemos mais. Isso não significa que vivamos melhor nem que o maior tempo de que dispomos nos leve a realizações significativas. Todos temos alguns momentos-chaves, em que as coisas acontecem, e outros em que nos limitamos a “tocar” biologicamente a vida. Ninguém garante que, se vivesse mais de 24 anos, Castro Alves teria feito poemas superiores aos que fez. Viver mais também não deixa de ser um problema; implica um desafio maior para a conquista e a manutenção da felicidade.
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