“A gente ama apesar.”
Clarice resgata o uso de “apesar” como
advérbio (hoje esse vocábulo aparece apenas nas locuções “apesar de”, “apesar
de que”) para afirmar uma verdade profunda e aparentemente desconcertante sobre
o ser humano. Amamos alguém não pelo que ele é, mas apesar do que ele é. Isso
pode parecer paradoxal e decepcionar os que esperam do ser amado uma irrestrita
correspondência a suas expectativas. Talvez a paixão exista “por causa”, pois nela o objeto é uma fantasia, uma projeção de quem se apaixona. O amor, que pressupõe
uma visão realista do objeto, ocorre mesmo é... apesar. Implica reconhecer
no outro o que ele tem de falho, mesquinho, humano, e ainda assim se dispor ao
difícil exercício da aceitação. Ou do perdão. Sem isso, é impossível amar.
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