Ele chegou para a mulher e disse:
-- Luísa, não dá mais.
-- O quê!? Como assim?
-- Desculpe... Eu me esforcei, mas sinto
que cheguei ao limite da minha resistência.
-- Tem certeza? Na nossa última conversa
você disse que ia continuar insistindo... por nós dois.
-- Eu falei isso mais pra te consolar.
Não queria que você se decepcionasse nem perdesse a esperança. Muito menos lhe
causar constrangimento.
-- Constrangimento?! É muito mais, é
decepção. Você sabe qual foi meu grau de investimento nisso tudo --
investimento emocional e financeiro.
-- Entendo, entendo... Mas seja
razoável. Eu não estou me sentindo bem. Tem dias em que não consigo suportar o
peso. Compreenda as minhas razões, por favor.
-- Eu compreendo, sim. Qual o remédio?
-- O remédio é desistir. Pelo bem da
minha saúde.
-- Não imaginei que você estivesse
assim. Parecia tão envolvido... O problema é de afinação?
-- Não. Até que somos afinados. É mesmo
peso, cansaço... Você pensa que eu não lamento?
Imaginei o sucesso que ainda podíamos fazer diante dos amigos, as festas
a que nos convidariam.
-- Festas?! Podíamos curtir mesmo aqui
sozinhos. Para mim era o bastante. Eu te ouviria por horas... Sonhei com isso
anos e anos.
-- Eu sei... Mas está ficando pesado
demais.
-- Eu deveria ter escolhido outro...
-- É verdade. Talvez com outro desse
certo. Outro menos complicado e mais leve.
-- Mas não se torture; tive minha parte
de culpa nisso. Quando escolhi, fui influenciada pela imagem do meu pai. Ele
era o modelo que eu pensei que você poderia seguir. Só que você é outro. Cada
qual é o que é.
-- E então? Sem mágoas?
-- Sem mágoas. E já que você está mesmo
decidido, vou daqui a pouco à loja devolver o acordeom. Posso ao menos trazer
um violão? Não era o instrumento que meu pai tocava, mas talvez você se adapte
melhor a ele.
-- Traga. E como violão deve ser mais
barato, não se esqueça de pedir a diferença.
Nenhum comentário:
Postar um comentário