quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Humor e autodepreciação

A autodepreciação é tradicionalmente uma fonte de humor. Falar mal de si tem alguma coisa de engraçado, e os humoristas sabem disso (que o diga, por exemplo, Woody Allen). Daí explorarem ao máximo os juízos negativos sobre si mesmos.

Um dos mais famosos exemplos disso é a frase de Groucho Marx: “Não entro para um clube que me aceita como sócio.” O autor dá a entender que, recebendo alguém tão insignificante, esse clube não pode mesmo ter qualidade. 

Por que será que a autodepreciação faz rir? Primeiro, pelo efeito surpresa. O ser humano é naturalmente egoísta e narcisista. Ninguém espera que Narciso encare a própria imagem e, em vez de se deslumbrar, assuma um ar contrafeito. Segundo, pela impressão que o humorista dá aos outros de que lhe são superiores. É mais fácil rir das fraquezas e dos infortúnios alheios do que dos nossos. E quando tais infortúnios ou fraquezas são autoproclamados, a coisa fica mais engraçada ainda.

Há um terceiro motivo: o mecanismo da identificação. Muitos dos que leem os comentários desabonadores têm de si o mesmo conceito. Afinal, como disse Valéry, os homens se distinguem pelo que aparentam e se assemelham pelo que escondem. Ninguém esconde o que é bom. A identificação, como bem mostra Freud, é um importante mecanismo de gratificação interior porque dá ao homem a certeza de que ele não está sozinho.  

Vez por outra ensaio algumas frases na linha autodepreciativa. O objetivo, claro, é fazer rir, mas isso não quer dizer que às vezes eu não concorde com o que digo (e haja autodepreciação!). Se, como diz Pascal, o eu é detestável, tentemos pelo menos encarar isso com humor. Eis algumas dessas frases (que evidentemente não prestam, vindas de alguém tão sem graça como eu...):

   Sou capaz de amar o semelhante desde que ele não se pareça muito comigo.

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             Certamente serei lembrado pela rapidez com que vão me esquecer.

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             Não me recuso a aplaudir um auditório que me vaia. Afinal, alguém tem que mostrar que está gostando.

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             Antes de morrer, quero deixar uma marca. Só me falta o produto.

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       Tentei fazer um pacto com o diabo, mas ele recusou. Disse que eu não mereço confiança.

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        Definitivamente, em matéria de beleza masculina eu não faço o meu tipo.

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O indivíduo tem que gostar de si mesmo, e isso para mim não é problema. Eu me amo – só que não sou correspondido.

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Não basta se conhecer. É preciso também se perdoar. O problema é que, quanto mais o indivíduo se conhece, mais difícil é para ele perdoar-se.  

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Sou muito bom naquilo que não faço.

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Não costumo culpar ninguém pelos meus erros. Sou autoinsuficiente. 

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O silêncio do inocente