A autodepreciação é tradicionalmente
uma fonte de humor. Falar mal de si tem alguma coisa de engraçado, e os
humoristas sabem disso (que o diga, por exemplo, Woody Allen). Daí explorarem
ao máximo os juízos negativos sobre si mesmos.
Um dos mais famosos exemplos disso é a frase
de Groucho Marx: “Não entro para um clube que me aceita como sócio.” O autor dá
a entender que, recebendo alguém tão insignificante, esse clube não pode mesmo
ter qualidade.
Por que será que a autodepreciação faz
rir? Primeiro, pelo efeito surpresa. O ser humano é naturalmente egoísta e
narcisista. Ninguém espera que Narciso encare a própria imagem e, em vez de se
deslumbrar, assuma um ar contrafeito. Segundo, pela impressão que o humorista
dá aos outros de que lhe são superiores. É mais fácil rir das fraquezas e dos
infortúnios alheios do que dos nossos. E quando tais infortúnios ou fraquezas
são autoproclamados, a coisa fica mais engraçada ainda.
Há um terceiro motivo: o mecanismo da
identificação. Muitos dos que leem os comentários desabonadores têm de si o
mesmo conceito. Afinal, como disse Valéry, os homens se distinguem pelo que
aparentam e se assemelham pelo que escondem. Ninguém esconde o que é bom. A
identificação, como bem mostra Freud, é um importante mecanismo de gratificação
interior porque dá ao homem a certeza de que ele não está sozinho.
Vez por outra ensaio algumas frases na
linha autodepreciativa. O objetivo, claro, é fazer rir, mas isso não quer dizer
que às vezes eu não concorde com o que digo (e haja autodepreciação!). Se, como
diz Pascal, o eu é detestável, tentemos pelo menos encarar isso com humor. Eis
algumas dessas frases (que evidentemente não prestam, vindas de alguém tão sem
graça como eu...):
Sou capaz de amar o semelhante desde que ele não se pareça muito comigo.
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Certamente serei lembrado pela rapidez com que vão me esquecer.
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Não me recuso a aplaudir um auditório que me vaia. Afinal, alguém tem que
mostrar que está gostando.
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Antes de morrer, quero deixar uma marca. Só me falta o produto.
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Tentei fazer um pacto com o diabo, mas ele recusou. Disse que eu não
mereço confiança.
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Definitivamente, em matéria
de beleza masculina eu não faço o meu tipo.
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O indivíduo tem que gostar de
si mesmo, e isso para mim não é problema. Eu me amo – só que não sou correspondido.
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Não basta se conhecer. É
preciso também se perdoar. O problema é que, quanto mais o indivíduo se
conhece, mais difícil é para ele perdoar-se.
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Sou muito bom naquilo que não
faço.
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Não costumo culpar ninguém
pelos meus erros. Sou autoinsuficiente.
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