sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Tristezas de um país minguante

(à la manière de Augusto dos Anjos)

Por forças obscuras convocado,
disponho-me a sair deste meu sono
a fim de denunciar o abandono
em que o meu país está jogado.   

Aonde estou, chegam-me vívidos os reclamos
de uma nação que vê, estupefata,
sua honra consumir-se na bravata  
de mil ardis e mil torpes enganos.

O mal que a acomete é como a goela
omnívora de um bicho insaciável
que tanto mata o pobre, o miserável,
quanto espezinha a triste classe média.

O germe dessa força deletéria   
que a cada dia mais nos envergonha   
já se disseminava na Colônia
qual torva e renitente bactéria.
  
Seu nome bem se sabe, pois permeia  
quase todos os níveis da nação:
é a atávica e mórbida corrupção,
contra a qual não há rito nem cadeia.

Ela se manifesta, com acinte, 
em nível bem maior que o original
-- o país arranjou outro Cabral
para pilhá-lo com bem mais requinte!

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