O presente ao lado da cama era a indicação de um
mistério . Mas
o presente era
a “coisa ”, o objeto
com que
eu brincaria dali por
diante como
o faria com outro
presente qualquer .
O importante era
a origem , o trajeto
por ele
percorrido até chegar
ao meu quarto .
Eu queria desvendar
o percurso pelo qual
esse mistério
se fizera presença concreta ,
materializada num revólver , num jogo
ou num carrinho
de corridas .
“Se Papai Noel não
existe, por que
me enganaram?” Ruminei por um tempo essa pergunta , com raiva não tanto dos que promoveram a farsa ,
mas de mim
mesmo . Essa é a reação
que temos quando
nos sabemos ludibriados. Depois , aos poucos ,
fui-me consolando graças a um sentimento novo : a sensação de superioridade perante
os outros irmãos .
Como não
sabiam a verdade , eles
faziam ingenuamente os pedidos . E na manhã do dia 25
abriam triunfantes os pacotes . Eu os
olhava com uma ponta
de piedade .
Fingia
que abria o meu
pacote e via o
presente pela
primeira vez .
Mas já
brincara com ele
na noite anterior ,
entre os adultos ,
pois o conhecimento
do segredo me
dera também o direito
de dormir tarde .
De que valia
dormir cedo
na noite de Natal
se não era
para esperar o Bom Velhinho?
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