quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Divagando se vai longe (13)


A internet potencializou a fofoca. A fofoca não é novidade, claro; sempre houve pessoas que precisam depreciar os outros para se sentir melhores. Mas antes a vida alheia era objeto de comentários discretos. Havia certo pudor do fuxico. Hoje a maledicência é propaganda sem limites nas redes sociais. E a coisa piora devido ao distanciamento propiciado pelo universo virtual. Na conversa frente a frente é mais difícil deixar de lado o escrúpulo, pois o interlocutor está diante de nós. Mas isso não ocorre quando o outro é uma presença remota, e falta o olho no olho.
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Recentemente vi na televisão uma mulher fazer o nome do pai antes de assaltar uma joalheria. Não foi a primeira vez que assisti a cenas desse tipo, envolvendo até crimes mais graves. O indívíduo invoca sinceramente a proteção divina, pois vai correr riscos e pretende sair incólume da aventura. Espera a proteção de Deus mesmo se dispondo a fazer algo errado e prejudicar o outro. O fato é que o apelo dessa pessoa é tão legítimo quanto o de quem reza para fazer o bem (ou afastar o mal). O ser humano molda a crença religiosa aos seus propósitos. O pior dos malfeitores pode se sentir interiormente fortificado por achar que Deus o acompanha e protege. A condição para isso é ter fé.
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           O democrata se curva à vontade do povo. O demagogo curva o povo à sua vontade, dando a impressão de que age em prol do bem público. A arma do demagogo é a ideologia, que tem força de religião e lhe confere uma aura de santidade. Nimbado dessa auréola, ele ganha uma espécie de imunidade moral. Pode mentir, roubar, se corromper, que sempre vai encontrar quem o defenda. Afinal, não existe orfandade mais dolorosa do que a do mito, cuja perda deixa os devotos na mais profunda solidão.
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          Ornitólogo me propôs um roteiro turístico. Começava com Patos, depois vinha Canárias, por fim Guiné. Ora pombas! É melhor ele recolher as asinhas, pois isso não cabe no meu bico.
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Há uma diferença entre ser aborrecido por alguém e aborrecer-se com alguém. No primeiro caso existe uma ação proposital. Somos vítimas de quem voluntariamente quer nos aporrinhar. No segundo, importunamo-nos com o outro sem que ele faça nada para isso. Certos traços do seu comportamento ou da sua maneira de ser nos importunam – e acabou-se. Na segunda situação a culpa é mais nossa do que dele, que não deixa de ser vítima da nossa intolerância.

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O silêncio do inocente