sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Divagando se vai longe (15)


Sem consenso não há concórdia. Deveria ser diferente, e o ser humano bem que poderia “associar o coração” mesmo àqueles que pensam diferente dele. Infelizmente está longe de ser assim. Tendemos a só gostar de quem se alinha conosco em termos de política, religião ou moral. Uma prova disso é o clima de inimizade que se criou nas últimas eleições. Ninguém estava disposto a fazer um julgamento racional. Os argumentos não apareciam para fundamentar a verdade, mas sim para justificar uma visão preconcebida. O resultado foi um cortejo de inimizades. Isso porque o raciocínio que determina os afetos é: não posso gostar de quem não pensa como eu, mesmo que essa pessoa tenha virtudes, seja um grande ser humano. Gostamos das pessoas não pelo que elas são, mas pelo que têm em comum conosco.
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Por que se escreve? Porque falta sentido à vida e sobre isso é preciso dizer alguma coisa. A escrita é exercício e aventura. É um jogo sério, pois se faz com palavras, e juntá-las nem sempre conduz ao resultado que se espera. Um jogo de tentativas e muitos erros, mas que nos poucos acertos revela umas tantas verdades sobre nós. O homem não se constrói apenas por obras, constrói-se também por signos; o escritor é o artífice maior dessa construção.
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Segundo Kafka, a paciência é uma segunda coragem. Precisamos ser resistentes para suportar as incertezas da espera. Mas a tendência é agirmos com precipitação por medo do que poderá vir. Paciência não é só coragem; é também confiança.
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         Há pessoas que acreditam num Ser Superior para não se sentir inferiores (arrogância). Outras adotam essa crença para realçar sua pequenez (humildade). O problema não é se Deus existe ou não. É se somos capazes de admitir Sua existência e, sobretudo, que efeito ela terá em nossas vidas. Infelizmente poucos retribuem o conforto de acreditar nele com um comportamento moralmente digno. Vão à igreja para salvar “suas” almas, como se bastasse acreditar para se redimir.
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        As pessoas se assemelham muito nos defeitos e pouco nas virtudes. Certamente porque as virtudes são raras e alcançam um número muito pequeno de indivíduos. Isso explica a identificação promovida pela arte, que enfoca sobretudo as “almas defeituosas”. Encontrar nos personagens as nossas próprias falhas ajuda-nos a conviver com elas.

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O silêncio do inocente