Sem consenso não há concórdia. Deveria
ser diferente, e o ser humano bem que poderia “associar o coração” mesmo
àqueles que pensam diferente dele. Infelizmente está longe de ser assim.
Tendemos a só gostar de quem se alinha conosco em termos de política, religião
ou moral. Uma prova disso é o clima de inimizade que se criou nas últimas
eleições. Ninguém estava disposto a fazer um julgamento racional. Os argumentos
não apareciam para fundamentar a verdade, mas sim para justificar uma visão
preconcebida. O resultado foi um cortejo de inimizades. Isso porque o
raciocínio que determina os afetos é: não posso gostar de quem não pensa como
eu, mesmo que essa pessoa tenha virtudes, seja um grande ser humano. Gostamos das
pessoas não pelo que elas são, mas pelo que têm em comum conosco.
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Por que se escreve? Porque falta
sentido à vida e sobre isso é preciso dizer alguma coisa. A escrita é exercício
e aventura. É um jogo sério, pois se faz com palavras, e juntá-las nem sempre
conduz ao resultado que se espera. Um jogo de tentativas e muitos erros, mas
que nos poucos acertos revela umas tantas verdades sobre nós. O homem não se
constrói apenas por obras, constrói-se também por signos; o escritor é o
artífice maior dessa construção.
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Segundo Kafka, a paciência é uma
segunda coragem. Precisamos ser resistentes para suportar as incertezas da
espera. Mas a tendência é agirmos com precipitação por medo do que poderá vir.
Paciência não é só coragem; é também confiança.
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Há
pessoas que acreditam num Ser Superior para não se sentir inferiores
(arrogância). Outras adotam essa crença para realçar sua pequenez (humildade).
O problema não é se Deus existe ou não. É se somos capazes de admitir Sua
existência e, sobretudo, que efeito ela terá em nossas vidas. Infelizmente
poucos retribuem o conforto de acreditar nele com um comportamento moralmente
digno. Vão à igreja para salvar “suas” almas, como se bastasse acreditar para
se redimir.
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As
pessoas se assemelham muito nos defeitos e pouco nas virtudes. Certamente
porque as virtudes são raras e alcançam um número muito pequeno de indivíduos. Isso
explica a identificação promovida pela arte, que enfoca sobretudo as “almas
defeituosas”. Encontrar nos personagens as nossas próprias falhas ajuda-nos a
conviver com elas.
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