segunda-feira, 13 de abril de 2020

Notas sobre a pandemia (15)



         
         A rotina da quarentena exige um maior envolvimento nas atividades culinárias por parte dos que, como eu, exercem-nas mediocremente. Estou longe de ser aquele tipo de sujeito que não sabe fritar um ovo, porém confesso que às vezes deixo queimar a omelete. Minha mulher tem trabalhado mais, concordo, no entanto já tentei lhe mostrar que a sua atividade tem uma nobreza que a minha está longe de ter. Cozinhar é uma arte; lavar a louça, não. Fazer a comida envolve a escolha dos ingredientes, a dosagem dos temperos, a graduação da temperatura do forno para obter o ponto ideal de cozimento. É um trabalho que motiva seu autor e lhe desperta a criatividade. Já lavar os pratos e talheres constitui literalmente a parte “suja”. Elogia-se facilmente um prato bem-feito, mas poucos (ai de mim!) valorizam uma louça lavada com esforço e aplicação. A tendência dos outros é demonstrar a insuficiência do trabalho, apontando a tisna renitente, a borra disfarçada, a mancha de gordura que ficou...

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O poder da frase