Os “sonhos
pandêmicos” traduzem a maneira como o nosso inconsciente processa os resíduos
diurnos recheados de notícias sobre morte, isolamento social, internações em
hospitais lotados. Tive um deles ontem. Sonhei que estava num quarto cheio de
camas (pareciam beliches) sobre as quais estavam deitados tigres. Minha vontade
era correr dali, pois sabia que os felinos a qualquer momento iam atacar. Meus
flertes com a Psicanálise me encorajam a tentar interpretar esse sonho. Os conteúdos
oníricos, como aprendemos com Freud, submetem-se a dois mecanismos básicos: a condensação
e o deslocamento. A condensação explica a referência aos tigres; recentemente falei
aqui de um deles (a fêmea Nádia), que fora infectado pelo coronavírus. Os beliches
no quarto são imagens deslocadas das enfermarias onde os doentes padecem com
falta de ar. E por que esses doentes apareciam sob a forma de tigres? Isso
novamente se explica pela condensação: no processo infeccioso os pacientes são
também transmissores, ou seja, constituem uma agressiva ameaça para os outros.
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