quarta-feira, 15 de abril de 2020

Notas sobre a pandemia (16)



Os “sonhos pandêmicos” traduzem a maneira como o nosso inconsciente processa os resíduos diurnos recheados de notícias sobre morte, isolamento social, internações em hospitais lotados. Tive um deles ontem. Sonhei que estava num quarto cheio de camas (pareciam beliches) sobre as quais estavam deitados tigres. Minha vontade era correr dali, pois sabia que os felinos a qualquer momento iam atacar. Meus flertes com a Psicanálise me encorajam a tentar interpretar esse sonho. Os conteúdos oníricos, como aprendemos com Freud, submetem-se a dois mecanismos básicos: a condensação e o deslocamento. A condensação explica a referência aos tigres; recentemente falei aqui de um deles (a fêmea Nádia), que fora infectado pelo coronavírus. Os beliches no quarto são imagens deslocadas das enfermarias onde os doentes padecem com falta de ar. E por que esses doentes apareciam sob a forma de tigres? Isso novamente se explica pela condensação: no processo infeccioso os pacientes são também transmissores, ou seja, constituem uma agressiva ameaça para os outros.

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