terça-feira, 5 de maio de 2020
Sem caminho
Alguns deixam bilhetes ou cartas
se desculpando (o que é curioso, pois se o suicida deve pedir desculpas a
alguém é a ele próprio). Esses textos são no fundo um tardio pedido de ajuda ou
uma forma de incriminação.
Há, contudo, os que se matam para
ficar “mais vivos”. Foi o caso de Getúlio Vargas, que antes de atirar no
coração deixou uma carta com a frase célebre: “Saio da vida para entrar na
História”. Ele tinha consciência de
como o seu papel na vida pública foi aos poucos se denegrindo. O único jeito de restabelecer a
imagem era com um gesto que representasse um sacrifício extremo. E qual soaria melhor
do que tirar a própria vida?
O bilhete deixado por Flávio Migliaccio
não contém um pedido de desculpas. Tampouco vale como uma incriminação, pois
ele se refere ao caos político do País e não acusa especificamente ninguém. Sua
acusação tem como alvo a humanidade, que “não teria dado certo”.
Concordo com que a humanidade não
vem se acertando (e nada garante que ela um dia se acerte), mas não sei se há
quem se mate por estar desencantado com ela. O desencanto – por decepção, dor
ou cansaço – é sobretudo consigo mesmo. Dostoiévski, em “Crime e castigo”, escreve
que para viver o homem precisa sentir que vai a algum lugar. O suicida é alguém que chega à dolorosa constatação de que não tem mais para onde ir.
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