Os heróis dos quadrinhos não têm uma identidade. São arquétipos em que o cinema introduz personalidades variadas, com isso alargando-lhes a dimensão humana. Um exemplo disso é este “The Batman”, que mostra o personagem principal hesitante quanto à própria identidade e às voltas com fantasmas do passado.
O filme é um pouco arrastado, mas acaba
nos levando de arrastão. Convence sobretudo do segundo terço para o fim, quando
destaca a luta do herói com o grupo mafioso que domina a política de Gotham
City.
Esse combate aparece envolto em sombras
que refletem outro tipo de conflito, centrado na psique do personagem — uma
psique torturada pela lembrança dos pais, cuja morte ele não conseguiu
superar.
Mas o maior combate é com o Charada,
clássico vilão que nesta versão de Matt Reeves aparece como uma espécie de
assassino “do bem”. Seus crimes são uma tentativa de punir os meliantes da
política e da máfia, promovendo uma renovação da cidade.
Ele sabe que Batman é seu maior adversário
nesse processo de “limpeza”, por isso concentra principalmente nele a sua
disposição maligna. Fazendo jus ao nome, provoca-o com enigmas verbais cuja
resolução levaria ao confronto final entre os dois.
“The Batman” é coerente em sua proposta ao
destacar o visual sombrio e compacto no qual Gotham City parece se afogar. O
tom escuro da paisagem é uma projeção da melancólica consciência do herói
(otimamente interpretado por Robert Pattinson). Limitado pela culpa mas
sobretudo preso ao dever, que é o de defender a cidade, ele resiste às investidas
da Mulher Gato (Zoë Kravitz, também em ótima interpretação).
Fotografia e música (por vezes bombástica)
ressaltam a atmosfera opressiva.
Pelo elenco, a fotografia e a concepção
original, que humaniza e “problematiza” o tradicional personagem dos quadrinhos,
“The Batman” merece uma ida ao cinema.
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