domingo, 6 de março de 2022

Tirando a máscara do herói


 Os heróis dos quadrinhos não têm uma identidade. São arquétipos em que o cinema introduz personalidades variadas, com isso alargando-lhes a dimensão humana. Um exemplo disso é este “The Batman”, que mostra o personagem principal hesitante quanto à própria identidade e às voltas com fantasmas do passado. 

O filme é um pouco arrastado, mas acaba nos levando de arrastão. Convence sobretudo do segundo terço para o fim, quando destaca a luta do herói com o grupo mafioso que domina a política de Gotham City. 

Esse combate aparece envolto em sombras que refletem outro tipo de conflito, centrado na psique do personagem — uma psique torturada pela lembrança dos pais, cuja morte ele não conseguiu superar. 

Mas o maior combate é com o Charada, clássico vilão que nesta versão de Matt Reeves aparece como uma espécie de assassino “do bem”. Seus crimes são uma tentativa de punir os meliantes da política e da máfia, promovendo uma renovação da cidade. 

Ele sabe que Batman é seu maior adversário nesse processo de “limpeza”, por isso concentra principalmente nele a sua disposição maligna. Fazendo jus ao nome, provoca-o com enigmas verbais cuja resolução levaria ao confronto final entre os dois. 

“The Batman” é coerente em sua proposta ao destacar o visual sombrio e compacto no qual Gotham City parece se afogar. O tom escuro da paisagem é uma projeção da melancólica consciência do herói (otimamente interpretado por Robert Pattinson). Limitado pela culpa mas sobretudo preso ao dever, que é o de defender a cidade, ele resiste às investidas da Mulher Gato (Zoë Kravitz, também em ótima interpretação).

Fotografia e música (por vezes bombástica) ressaltam a atmosfera opressiva.

Pelo elenco, a fotografia e a concepção original, que humaniza e “problematiza” o tradicional personagem dos quadrinhos, “The Batman” merece uma ida ao cinema. 

 

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