Nas últimas semanas o mundo tem tido notícia de um produto revolucionário da Inteligência Artificial – o ChatGPT. Ele seria capaz de elaborar cálculos matemáticos ultracomplexos e produzir textos dos mais variados tipos. Por essas características, entre muitas outras, vem empolgando cientistas, artistas e intelectuais. Ao mesmo tempo lança uma sombra de medo nos que temem a concorrência com a IA e traz à baila o velho temor de o homem ser superado por ela.
Sempre se esperou
que o computador ajudasse o ser humano em atividades nas quais prevalecem a
manipulação de dados e o cálculo de grandezas que a nossa inteligência é insuficiente
para realizar. Ele seria um instrumento focado sobretudo nas operações em que prevalece
o raciocínio lógico. Não se pensava que atuasse em domínios como o da arte, que
dependem basicamente da sensibilidade e da emoção.
Diante disso, o
ChatGPT tem gerado polêmicas. Há os que o saúdam como uma ferramenta capaz de
multiplicar em níveis impensáveis nossas produções científicas, artísticas e
culturais. E há, por outro lado, os que nele apontam uma série de limitações. Segundo
li no Google, ele “pode gerar informações
incorretas e falsas”, bem como “fornecer instruções perigosas e conteúdo
enviesado”. Além disso, “tem um conhecimento limitado do mundo e de eventos
depois de 2021”.
Segundo Yuval Noah
Harari, autor de “Homo Deus, algoritmos como o ChatGPt são fruto do dataísmo, ou
seja, da obsessão por informações que tem acompanhado a evolução dos
computadores. Operam em função da quantidade e não da qualidade. Quando
respondem a um questionamento, não o fazem por analisar conscientemente o que
estão avaliando, mas sim por disporem de uma série interminável de bits que
lhes permite estabelecer uma sequência mais ou menos coerente – ou não, daí a
possibilidade de erros escandalosos. Já o nosso cérebro valoriza o que conta
(tem peso ou importância), não o que consegue numericamente contar.
Não acredito que a IA possa um dia superar a inteligência humana. Os
algoritmos são cães cibernéticos amestrados. O desejo das máquinas é e será
sempre o desejo de quem as criou. Nietzsche escreveu que não se pode esperar
eficiência de uma máquina que “se sabe” trabalhando. Nós nos sabemos
trabalhando, somos ineficientes, mas nisso está a nossa grandeza.
A consciência e a
dor permitem que nos “reparemos” por conta própria. O intelecto não é uma
instância mental autônoma que analisa as informações e opera logicamente os
conceitos. Ele se enraíza nas emoções e se equilibra no abismo do espírito.
Isso transcende a capacidade de manipular dados própria do computador. Para ser
eficaz, esse artefato cibernético não pode hesitar nem escolher caminhos
alternativos. Opera prodígios, mas sem saber o que está fazendo.
Alceu Amoroso Lima escreveu, parodiando o cogito de Descartes: “Penso,
logo hesito”. Hesitar faz parte do nosso percurso cognitivo e existencial;
supõe mudanças no nosso modo de pensar e agir. O algoritmo não hesita porque é
imune aos afetos e não se detém em imperativos éticos ou morais. O seu engenho
– se podemos chamar assim – deriva de um conjunto de articulações que visam determinar
de forma inequívoca sua finalidade.
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