“Narrativa” é hoje uma palavra-ônibus,
ou seja, uma dessas que servem a muitos sentidos e intenções (mais intenções do
que sentidos).
É uma especie de fakenews robusta, urdida com o propósito de
desqualificar (outra palavra da moda) ou mais raramente reabilitar
alguém.
Seu sentido é mais negativo do que positivo, pois o que
prevalece em “narrativa” é a ideia de uma versão falsa, mentirosa, criada por
alguém para escapar de reprimenda ou punição.
Ao embalo dessa palavra-ônibus, o indivíduo pode derrapar, capotar
ou colidir (nem sempre com outra “narrativa”). Pode usá-la inapropriadamente,
negando fatos ou buscando reabilitar, contra todas as provas, figuras
execráveis do mundo político.
O percurso do vocábulo “narrativa” constitui interessante
matéria para os estudiosos dos campos semânticos.
Nascido como uma espécie de derivação da “épica”, que
pressupunha nobreza de espírito e valor heroico, ele acabou designando
características totalmente opostas às que marcam os heróis das epopeias.
Os protagonistas das “narrativas” de hoje são o mais das
vezes figuras ladinas, animadas por propósitos escusos, ou capazes de atitudes
vis e desumanas para se manter no poder.
Não adianta afagá-los ou querer livrá-los do julgamento
devido. O mundo está suficientemente maduro para os reconhecer.
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