quinta-feira, 30 de novembro de 2023

Máximas saturninas (sobre a melancolia)

 A melancolia é a tristeza pelo que radicalmente nos falta. Cura-se por dispositivos simbólicos (a crença em Deus é uma de suas terapêuticas), e não por remédios. O que se cura por medicamentos é a depressão, que pode inclusive afetar os não melancólicos.    

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Quem descobriu que a Terra é chata não foram os astrônomos. Foram os melancólicos.

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O melancólico tem uma relação paradoxal com o tempo. Lamenta que ele passe, mas precisa dele para sair do estado em que se encontra. Uma das sensações mais comuns nele, por sinal, é a de que o amanhã não chega nunca.

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Dizem que o melancólico não tem fé. Isso não é verdade. Ele pode não ter crença, mas não lhe falta a fé. O corpo lhe assegura a esperança de triunfar sobre o vazio.

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O melancólico pensa lento e profundo. Deixem-no seguir seu ritmo, pois a pressa o exaspera ou mata.

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O otimista acha que o pouco é muito; o pessimista, que o muito é pouco; o melancólico, que “tanto faz”.

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Um pouco de melancolia faz bem; modera a euforia improdutiva. Tem dias em que “se produz” mais ficando na cama.

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O silêncio do inocente