Ele era um gênio da língua, comparável a Guimarães Rosa, Nelson Rodrigues ou Machado de Assis. Constituía com Millôr Fernandes uma dupla em que o humor se associa à crítica de costumes e à reflexão filosófica. Ambos tinham como matéria-prima o homem e sua presunção de superioridade.
Como “gigolô das palavras”, Veríssimo fazia delas o
que queria — mas, ao contrário desse personagem na vida real, deixava-as
satisfeitas. E até orgulhosas, pois sabia “vê-las” em sua corporeidade, suas
ressonâncias semânticas, seu poder de reinventar a realidade para dela nos
afastar e nos fazer melhor percebê-la.
Em suas histórias curtas, ele espelhava a perplexidade
e por vezes o ridículo em que se debate a classe média com as suas dúvidas
sobre a sexualidade, a psicanálise, a existência de Deus. Criticava os modismos
em que muitos embarcam no ingênuo afã de dar sentido ao que não conseguem
compreender.
Tal como o “irmão” Millôr, era um anarquista e um
cético quanto aos discursos falsamente piedosos que engodam quem prefere, à
lúcida reflexão, o conforto das ilusões. A diferença é que no carioca refulgia
sobretudo a inteligência — e nele, Veríssimo, refulgia o espírito.
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