sábado, 17 de janeiro de 2009

Maysa e a vida que não foi

Maysa pertence à família espiritual de Dolores Duran e Antônio Maria. Eles tinham em comum a extrema sensibilidade e a tendência a transformar a própria vida em roteiro das canções. Há nas letras de suas músicas uma sinceridade indisfarçadamente autobiográfica, expressa em tom franco e confessional. Uma espécie de despudor em desnudar a alma.
O drama de Maysa decorreu de uma junção entre contexto social e características individuais. Sempre foi difícil para as mulheres conciliar profissão com família. No caso das artistas essa dificuldade é maior, pois a arte supõe um desregramento que lhes inviabiliza ou dificulta tarefas como dirigir a casa, orientar os filhos, servir de esteio ao marido.
Os efeitos desse conflito foram multiplicados pelos traços da personalidade da cantora. Maysa era egocêntrica e temperamental. Vivia o terrível paradoxo de não suportar a solidão e afastar os que lhe estavam próximos.
Sabendo-se dotada, pois tinha uma bela voz e compunha, parecia achar que seu talento era suficiente para manter as pessoas junto de si. Como isso não acontecia, desesperava-se e mergulhava cada vez mais em seu exílio. Um autoexílio regado a fumo, soníferos e muito álcool. Nesse ponto lembrava Edith Piaf, um dos seus ídolos.
Um dos fatores para o sucesso da série recém-exibida pela TV Globo foi o texto bem-escrito, em que nada parecia sobrar ou faltar (tão diferente dos desdobramentos rocambolescos e incoerentes de algumas novelas, em que vilãs inexplicavelmente viram mocinhas e vice-versa). Outro foi o elenco afinado, no qual se destacou o trabalho da atriz principal.
Certamente o diretor Jayme Monjardim, filho de Maysa, orientou Larissa Maciel a trabalhar com os olhos – mas não bastaria isso para fazê-la compor com tanta densidade a personagem. O mérito maior foi mesmo dela, que parecia uma reencarnação da cantora. “Sua” Maysa roubou a cena – para usar uma expressão hoje comum. Era ao mesmo tempo dura e frágil, terna e agressiva, sádica e aflita no desespero com que buscava o amor.
Um dos aspectos positivos do roteiro foi mostrar a ambigüidade que torturou a cantora ao longo de quase toda a vida. Queria cantar, vencer no mundo artístico, mas ao mesmo tempo sofria o remorso de estar longe do filho e do marido.
Os flashbacks recorrentes, criticados por alguns, me pareceram um adequado recurso para traduzir isso. Traziam cenas de um passado aparentemente tranqüilo, que se opunha ao cotidiano febril e solitário da artista. Eram uma dolorosa imagem da “vida que podia ter sido e que não foi”.

Um comentário:

  1. Mamãe me disse que o que passou na minissérie foi bem "maquiado". Que a Maysa que existiu era muito mais louca do que pareceu lá... rsrrs
    A Globo como sempre romantizando tudo...

    Abraço!

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