“O curioso caso de Benjamin Button” não é apenas a história de um menino que nasce velho. Não é só o percurso de um garoto que vem ao mundo no estado físico em que normalmente os outros o deixam – enrugado e decrépito. É sobretudo uma reflexão sobre a passagem do tempo.
Benjamin nasce feio, encarquilhado, como se tivesse envelhecido no útero. Sua mãe morre do parto, e o aspecto do menino horroriza o pai. De início este pensa em matá-lo, depois desiste da ideia e o deixa na escadaria de um asilo para velhos. Aí Benjamin cresce, vendo os que o cercam morrerem aos poucos. Ele, ao contrário, vai rejuvenescendo fisicamente. As rugas se desfazem, a pele ganha brilho, o corpo adquire vigor.
O menino parece a concretização de uma poderosa imagem que aparece no filme: a do relógio cujos ponteiros andam para trás. O autor desse inusitado invento perdeu um filho na guerra do Vietnã e exprime no “relógio invertido” o desejo de fazer voltar o tempo. Só assim seria possível resgatar a vida de tantos jovens que morreram naquela e em outras guerras.
Esse é o lado político do filme, que protesta contra o belicismo de uma parte da América que não hesita em sacrificar seus filhos em nome de valores duvidosos e causas inúteis. Bush preencheu exemplarmente esse figurino; mentiu para invadir o Iraque e foi embora entre sapatadas. Muitos pais cujos filhos morreram na invasão desse país também quereriam que o tempo voltasse.
Mas o tempo segue implacavelmente o seu rumo, e mesmo quem aparenta escapar dessa progressão está marchando para a morte. Benjamin evolui (ou involui) do fim para o começo, envelhece ao contrário. Aos poucos, vai-se dando conta de que falta em sua vida a perspectiva de um futuro.
O fato de voltar à infância o coloca num extremo oposto ao da mulher e da filha. Vendo que essa distância será cada vez maior e não haverá possibilidade de encontro, Benjamin resolve abandoná-las para evitar que o apego torne, depois, mais difícil o corte. A mulher ainda tenta convencê-lo a mudar de ideia. Observa, numa das melhores frases do filme, que ele não é tão diferente dos outros; o destino de nós todos, afinal de contas, é um dia voltar a usar fraldas.
Mas Benjamin as abandona ao mesmo tempo em que começa a sofrer mentalmente os males da velhice: esquecimento, irascibilidade, demência. Morre feito bebê, nos braços da esposa. Não o bebê metafórico em que nos transformamos perto de morrer, mas um curioso bebê de pele fina e olhos claros. No ponto em que muitos começam, ele termina. E termina como todos, pois também para ele o tempo passou. Quer o relógio ande para a frente, quer ande para trás, a marcha dos ponteiros nos carrega com ela.
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professor! adorei sua resenha sobre o filme. eu o assisti e achei muito interessante a maneira como é tratada a efemeridade da vida e nao tinha percebido a clara ligacao entre o relogio que anda para trás e a vida de benjamin. nao sei se o senhor ja assistiu a um filme chamado o fabuloso destino de amelie poulain. é um filme otimo e acho que amelie é um pouco de cada pessoa, mostrando o bem que pode ser feito na vida das pessoas e a realizacao a partir de coisas simples e cotidianas. Um grande beijo! Aline Alves Lopes
ResponderExcluiresqueci de completar! amelie poulain é um excelente filme tambem. Recomendo!
ResponderExcluirAline
Professor Chico, não terminei de ler sua postagem pq fiquei em dúvida se o senhor contou o fim do filme aqui. É que ainda não assisti! Depois me diz se o fim do filme está contado aqui para eu terminar de ler a postagem, ou não!
ResponderExcluirAhh, sobre o comentário de Aline, esse filme que ela disse (O fabuloso destino de Amelie Poulain) é ótimo mesmo! Assisti pq estava indicado para a ufcg e foi um dos poucos indicados que realmente gostei de assistir! heheheh
Recomendo!