Ir à Europa foi, durante muito tempo, o sonho de todo brasileiro em certo momento da vida. Depois de trabalhar, adquirir patrimônio e fazer um razoável pé de meia, chegava enfim a hora de conhecer o Velho Mundo. Lá tinha história, nobreza, tradição, e o lustre que faltava aos “bárbaros” da América.
Numa passagem de “O cortiço” Aluísio de Azevedo refere entre os sonhos do burguês João Romão ir ao continente europeu e com isso fazer inveja aos que por aqui ficavam. Romão não pensava em aprender nos museus ou nas excursões pelos recantos históricos; não queria absorver o conhecimento de séculos e séculos de civilização. Queria tão-somente mostrar aos outros que pudera fazer a viagem. Voltaria o mesmo sujeito de espírito bronco que usara os recursos mais torpes para enriquecer -- mas a notícia de que estivera por lá lhe daria alguma forma de distinção.
Hoje as coisas mudaram. Com o desenvolvimento do setor turístico e o barateamento das passagens, não é preciso esperar muito para cruzar o Atlântico -- a não ser, como no meu caso, que o receio esteja mesmo em cruzar o Atlântico. Tudo ficou tão mais fácil, que acabei tomando coragem e indo. O roteiro incluiu Portugal (Lisboa), Espanha (Madri, Córdoba, Sevilha, Granada) e França (Paris).
A quem me pergunta “como foi?”, “valeu a pena?”, “o que mais lhe impressionou?”, respondo que meu espírito ainda está aterrissando (sem que nesse verbo haja nenhum tipo de menosprezo). Ver todos esses lugares em cerca de 18 dias representou uma maratona para o corpo e um deslumbre para a alma. Vai ser preciso tempo para processar tantas informações colhidas em prospectos, fones de guias turísticos, audiofones de museus. Por enquanto, prevalecem as impressões; depois virá o entendimento.
Evitei ao máximo ler jornais e assistir à TV durante a minha estada, mas não precisava deles para perceber que a Europa está em crise. Em Portugal, mais de um motorista de táxi falou sobre o assunto. Na Espanha, cruzamos tanto em Madri quanto em Sevilha com uma passeata de “indignados”, que bradavam palavras de ordem contra os ricos. Paris foi dos poucos lugares onde não vi manifestação alguma, mas isso não surpreende; com tantos turistas nas ruas, os manifestantes não teriam por onde transitar.
Sempre ouvi que o europeu é grosso, intolerante e de poucas palavras. Esse mito caiu depois da viagem (sobretudo em relação aos franceses). Com raras exceções, as pessoas a quem nos dirigimos nos trataram com simpatia e afabilidade.
Quem não está prevenido pode estranhar, em Portugal, uma espécie de “obviedade linguística” que parece estar entre a ingenuidade e o sarcasmo -- mas talvez não seja nada disso. Dois exemplos: uma noite, saindo da Alfama, perguntamos a um transeunte qual o melhor transporte para voltarmos para o hotel. Ele respondeu mais ou menos o seguinte: “- Se forem de ônibus, terão que seguir o trajeto especificado. Já o táxi vai deixá-los onde queiram ficar.” Agradecemos a preciosa lição.
Na volta à Lisboa, vindos de Madri, perguntamos ao funcionário que carimbava os passaportes onde ficava o portão 45 (no qual embarcaríamos para o Brasil). Resposta: “Fica depois do 44".
Numa passagem de “O cortiço” Aluísio de Azevedo refere entre os sonhos do burguês João Romão ir ao continente europeu e com isso fazer inveja aos que por aqui ficavam. Romão não pensava em aprender nos museus ou nas excursões pelos recantos históricos; não queria absorver o conhecimento de séculos e séculos de civilização. Queria tão-somente mostrar aos outros que pudera fazer a viagem. Voltaria o mesmo sujeito de espírito bronco que usara os recursos mais torpes para enriquecer -- mas a notícia de que estivera por lá lhe daria alguma forma de distinção.
Hoje as coisas mudaram. Com o desenvolvimento do setor turístico e o barateamento das passagens, não é preciso esperar muito para cruzar o Atlântico -- a não ser, como no meu caso, que o receio esteja mesmo em cruzar o Atlântico. Tudo ficou tão mais fácil, que acabei tomando coragem e indo. O roteiro incluiu Portugal (Lisboa), Espanha (Madri, Córdoba, Sevilha, Granada) e França (Paris).
A quem me pergunta “como foi?”, “valeu a pena?”, “o que mais lhe impressionou?”, respondo que meu espírito ainda está aterrissando (sem que nesse verbo haja nenhum tipo de menosprezo). Ver todos esses lugares em cerca de 18 dias representou uma maratona para o corpo e um deslumbre para a alma. Vai ser preciso tempo para processar tantas informações colhidas em prospectos, fones de guias turísticos, audiofones de museus. Por enquanto, prevalecem as impressões; depois virá o entendimento.
Evitei ao máximo ler jornais e assistir à TV durante a minha estada, mas não precisava deles para perceber que a Europa está em crise. Em Portugal, mais de um motorista de táxi falou sobre o assunto. Na Espanha, cruzamos tanto em Madri quanto em Sevilha com uma passeata de “indignados”, que bradavam palavras de ordem contra os ricos. Paris foi dos poucos lugares onde não vi manifestação alguma, mas isso não surpreende; com tantos turistas nas ruas, os manifestantes não teriam por onde transitar.
Sempre ouvi que o europeu é grosso, intolerante e de poucas palavras. Esse mito caiu depois da viagem (sobretudo em relação aos franceses). Com raras exceções, as pessoas a quem nos dirigimos nos trataram com simpatia e afabilidade.
Quem não está prevenido pode estranhar, em Portugal, uma espécie de “obviedade linguística” que parece estar entre a ingenuidade e o sarcasmo -- mas talvez não seja nada disso. Dois exemplos: uma noite, saindo da Alfama, perguntamos a um transeunte qual o melhor transporte para voltarmos para o hotel. Ele respondeu mais ou menos o seguinte: “- Se forem de ônibus, terão que seguir o trajeto especificado. Já o táxi vai deixá-los onde queiram ficar.” Agradecemos a preciosa lição.
Na volta à Lisboa, vindos de Madri, perguntamos ao funcionário que carimbava os passaportes onde ficava o portão 45 (no qual embarcaríamos para o Brasil). Resposta: “Fica depois do 44".
Chico, se todas as pessoas que conheço (inclusive eu) elencassem as "obviedades" proferidas por nossos patrícios, daria para escrever um livro de anedotas. Estou cada vez mais convencido de que a fama não é apenas piada, mas realidade!
ResponderExcluir