terça-feira, 28 de junho de 2011

Namorados - eles e elas

- Você não notou nada diferente em mim?
Ele a contempla, apreensivo.
- Notei, claro.
- O quê?
- Bem... -- Hesita, olhando-lhe com atenção o rosto, os braços, o vestido.
- Aposto que não notou... Está mentido.
Insiste em que notou, para não desapontá-la. Alguma coisa nela está mesmo diferente, mas ele não sabe o que é. Sempre detestou ser tão distraído.
- Está bem, vou dizer: cortei o cabelo.
Ele se perturba um instante, mas logo reage:
- Era a isso que você se referia? Qual a vantagem de perceber uma coisa que todo mundo percebe logo?
- Você tinha notado?!
- Claro! Não falei porque pensava que você se referisse a essa verruguinha -- aponta com o dedo. -- Na semana passada, estava um pouquinho abaixo da boca. Hoje está mais em cima.
Ela se olha no espelho e vê, de fato, um pontinho minúsculo quase na linha lateral dos lábios. Exclama:
- Poxa!! Você foi capaz de notar isso? Já vi que repara mesmo em mim.
Abraça-o. Ele suspira, aliviado. Desta vez escapou, mas precisa ser mais atento.

****
Mal ele chega, ela dispara, sorrindo:
- Hoje é nosso aniversário!
- Como, se eu nasci em julho e você em setembro?
- Falo do aniversário do nosso namoro. Você nem se lembrava...
E agora? Ele não trouxe presente nem cartão. Tenta uma saída:
- É que eu não sou pessimista como você, que conta nosso namoro em anos. Conto em décadas, pois por mim a gente vai ficar para sempre juntos. Entendeu agora? Não foi alheamento, foi... confiança no futuro.

****
Ele acorda, olha o relógio e vê que perdeu a hora. Adormecera de cansaço em razão do jogo de futebol. E logo numa data tão especial! Ela com certeza não ia perdoar.
Dá um pinote até o banheiro, toma um banho super-rápido e se manda para a casa da namorada. Encontra-a no alpendre, o rosto vermelho de fúria e mágoa.
-- De... desculpe. Sei que me atrasei e não mereço ser perdoado.
- Adormeceu?! Como é que você me deixa aqui plantada num dia como hoje?
- Não mereço perdão, já disse. Mas parte da culpa é sua.
- Minha?!
- É que... eu estava sonhando com você. E quando sonho com você, fica difícil acordar. A gente nunca quer sair de um sonho bo
- E como era o sonho?
- Você estava bonita como sempre. Doce, meiga.
Ela respira fundo, segurando a custo a indignação. Olha-o com irônica seriedade:
- Pois faça o favor de voltar para casa e continuar a dormir. Me reencontre no sonho... bonita, doce, meiga. Aqui estou o contrário de tudo isso. Adeus.
Entra, fecha a porta e o deixa sozinho na noite.

Um comentário:

  1. Adorei a mulher da última historinha, quero ser igual a ela quando eu crescer que mulher só presta assim! hauahauahuahauahauha

    Muito bom, professor!

    Bjuuus

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O silêncio do inocente