domingo, 29 de julho de 2012

Notas sobre Roma (3)

Andando em Roma, deparávamo-nos com arcos, igrejas, monumentos que não conseguíamos identificar. Era preciso consultar o guia turístico, já amarrotado de tanto uso. “O que é aquilo?” “O Arco de Constantino.” “E o que se diz dele?” “Aqui diz que “foi construído em 315 para celebrar a Batalha da Ponte Mílvio (312), quando o imperador, lutando sob a bandeira do novo Deus, derrotou seu rival pagão Mexêncio e pôde declarar o cristianismo a nova religião do povo. Erigido às pressas...”.
“Basta de tanta informação. Que tal a gente ir ali tomar um gelato?” E como ninguém é de ferro, lá íamos nós rumo a uma das inúmeras gelaterias da cidade. Sob o sol forte, era preciso temperar as agruras de exploradores com o frescor de um daqueles sorvetes magníficos. Pistache, amora, frutas do bosque -- foi mais fácil decorar esses sabores do que os nomes das obras de arte, que em Roma proliferam como se ela fosse um grande museu.
Depois do sorvete, impulsionados por outro tipo de sede, voltávamos ao guia. ”Aquilo ali, o que é?” É o Castelo Sant’Ângelo.” “Leia...”
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Aconselho a quem vai a Roma que não deixe de visitar esse castelo. E o faça de preferência a pé, saindo da Basílica de São Pedro e seguindo para o norte. Após atravessar uma rua de tráfego intenso (onde poderá ter uma ideia do confuso trânsito romano), siga por uma das margens do Tibre até a portentosa edificação.
O castelo foi construído para ser o mausoléu do imperador Adriano. Serviu de fortaleza na luta contra os godos e só em 1610 recebeu o nome atual -- em homenagem, reza a lenda, a uma aparição do arcanjo Miguel. Hoje abriga parte do Museu Nacional Romano. Depois de visitar a capela e os salões com os afrescos, suba ao ponto mais alto; de lá, terá uma das mais belas vistas da cidade. Essa vista só perde em beleza para a que se tem quando se sobe à cúpula da Basílica de São Pedro.
Ao sair do castelo, vale a pena seguir pela ponte margeada de estátuas até o outro lado do Tibre (o Trastevere). Fizemos isso à procura de uma igreja que não conseguimos encontrar -- mas o tempo não foi perdido. Embarafustando por ruelas e becos, conhecemos uma parte menos glamurosa de Roma. Um lugar de pequenas lojas e restaurantes, onde melhor se reflete o que a mídia tem publicado sobre a crise no país.
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Subir à cúpula da basílica foi um trabalho de penintente. Podia-se ir a pé desde o térreo ou tomar um elevador até o terraço e, a partir daí, galgar os 330 degraus restantes. Cada um escolhe conforme os pecados que tem a pagar; escolhemos a segunda forma.
Chega um momento na subida (aí pelo ducentésimo degrau) em que, arfante, a gente pensa em desistir -- mas já é tarde. Há uma enorme fila atrás e a largura exígua da escada não permite que se retorne. A compensação vem quando se chega ao topo e de lá se contempla a Cidade Eterna. De um lado, o contorno esbatido das ruínas; do outro, o perfil irregular de igrejas, prédios, monumentos recortados contra o ar translúcido... Então nos curamos do cansaço com um longo, um longo suspiro que regenera corpo e alma.

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