Alice
desistiu de procurar a Rainha, mas não estava nada satisfeita com as mudanças
de tamanho. Era muito doloroso não saber como ia acordar no dia seguinte.
Caminhava pelo bosque com esses pensamentos tristes, quando viu ao lado da
trilha um homem sentado diante de uma mesa sobre a qual havia um papel em
branco. Era o Escritor. Resolveu lhe falar:
- Senhor Escritor...
- Vá embora! Não vê que estou me
concentrando?
A menina se desculpou e ficou em
silêncio, observando a expressão do homem. Ele parecia olhar para dentro de si.
Depois de uns dois minutos, dirigiu-se a Alice com um ar aborrecido:
- Já falei que fosse embora! Preciso de
concentração.
-
Mas eu estou calada...
-
Está olhando para mim, o que é pior. Não consigo pensar com alguém olhando para
mim. Mesmo que seja uma menina como
você.
Alice não gostou do que ouvira, mas
resolveu não se contrariar. Sempre que se contrariava, ficava um pouco menor. O
pior não era diminuir de tamanho, era ver que os outros notavam isso.
- Por que o senhor escreve?
- Ainda não descobri. Na verdade, escrevo para descobrir por que
escrevo - respondeu o homem. Ficou tão satisfeito com a resposta, que resolveu
usá-la em seu próximo escrito.
- E você, já escreveu alguma coisa?
- Uma vez tentei escrever uma história,
mas era muito triste e acabei chorando. As lágrimas manchavam o papel.
- É verdade - concordou o Escritor - Não
se pode chorar e escrever ao mesmo tempo. Além de manchar o papel, prejudica o
estilo.
- Estilo? Engraçado... minha mãe
sempre diz que eu preciso ter estilo. E agora o senhor vem com essa. O que é
mesmo estilo?
- Estilo é o modo de fazer uma coisa.
Cada um tem o seu.
- Se cada um tem o seu, por que mamãe
diz que eu... “preciso” ter um?
- Sua mãe se refere a outro tipo de
estilo. Quer que você se comporte bem.
- Então estilo é bom
comportamento?
- Pelo contrário... Estilo é rebeldia
- disse ele pensativamente. Alice ficou sem entender e resolveu mudar de
assunto:
- Posso lhe falar um pouquinho dos
meus problemas?
- Não tenho tempo para ouvir; estou
escrevendo. Além disso, que problemas pode ter uma menininha como você?
- Na verdade, tenho um problema só -
mas enorme. Eu até trocaria esse problemão por muitos problemas menores.
- E qual é seu grande problema? -
quis saber o Escritor, imaginando se poderia tirar dali uma história.
- Mudar de tamanho. Nunca ser muito
tempo uma coisa só.
- Fique tranquila, você não é a
única. Esse é o problema de todo o mundo.
- Isso não me faz sofrer menos.
Nem todo o mundo aumenta ou diminui do mesmo jeito. Depende do... estilo de
cada um.
- O que você diz tem sentido, mas
não muda as coisas. Você não é diferente dos outros, e nada do que me disser
vai ser novidade.
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