Angelina
Jolie anunciou na semana passada que se submetera a uma dupla mastectomia para
prevenir um câncer geneticamente programado. O anúncio, como era de esperar, ganhou
manchetes em jornais e capas em revistas. Não tanto pelo radicalismo do
procedimento, que por si impressiona, quanto pela pessoa que a ele se submeteu.
A atriz de corpo longilíneo e lábios carnudos é um dos maiores símbolos sexuais
da atualidade.
Sua
disposição em fazer a cirurgia não deixa de ser um sinal de que as coisas
mudaram no universo das estrelas cinematográficas. Há algumas décadas, certamente
não seriam capazes de decisão tão corajosa. Prefeririam conservar a imagem a comprometê-la
em troca de mais anos de vida. Doença ou velhice eram os principais estigmas
que se apressavam em esconder. Um dos exemplos clássicos disso é Greta Garbo,
que ao pressentir a decrepitude se isolou do mundo para que ninguém lhe visse
as rugas. Queria se manter na memória dos fãs tal como era nos filmes.
Angelina não deu muita bola para isso. É
verdade que tinha mais do que as divas de outros tempos uma consciência clara e
aguda do que poderia lhe acontecer caso não fizesse a cirurgia, mas ainda assim
poderia ter apostado na sorte. O câncer é sempre uma probabilidade, e não há exame
genético que afirme com cem por cento de certeza se ele aparecerá ou não (segundo
os médicos, depois da cirurgia a chance de ela vir a ter a doença ficou
bastante reduzida, mas não se desfez).
A atriz preferiu não arriscar. Apesar de comprometida
com a glória, que se alimenta da imagem, quis se mostrar como alguém comum. Alguém
que quer viver no aqui e no agora para cumprir os compromissos em que se
envolveu como pessoa, cidadã, ativista de causas humanitárias.
Optando
pela saúde, ela mostra que o papel que considera mais importante é mesmo o de esposa
e mãe. Foi principalmente pelos filhos que tomou a difícil decisão; não queria que acontecesse com eles o que
houve com ela própria, que perdeu cedo a mãe devido a um câncer. “(Os filhos)
sabem que farei qualquer coisa para ficar com eles o maior tempo possível”,
escreveu a atriz no texto em que fez o anúncio da cirurgia.
Agora se especula sobre o seu futuro
profissional. Uns querem saber que efeito terá sobre o público a atitude que
tomou. Outros perguntam que tipo de papel ela representará, já que a cirurgia teria
abalado a imagem de símbolo sexual. Por mais que as próteses recomponham o que
o bisturi retirou, ficará na memória do público os detalhes de uma operação didaticamente
esmiuçada por jornais e revistas em todo o mundo. Seria difícil ignorar isso ao
vê-la protagonizar voluptuosas cenas de amor.
Hoje
não têm cabimento considerações dessa natureza. Num mundo em que se procura ver
sem preconceito a velhice e a doença, não faltarão papéis para heroínas como
ela. Heroínas cuja grandeza aparece na vida antes de chegar às telas do cinema.
A dimensão que a mídia vem dando ao caso mostra que a aura da atriz está longe
de se apagar. Pelo contrário, até brilha mais forte. O que parece já estar
ocorrendo é a transformação de um símbolo em outro.
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