domingo, 13 de julho de 2014

O que explica

        Desde os meus tempos de peladeiro, ouço dizer que futebol não tem lógica. É verdade que nenhum esporte se caracteriza pela racionalidade, mas no futebol a influência do imponderável parece maior.
         Um lance fortuito, ocorrido no último segundo da partida, pode definir o jogo. Sem falar das falhas humanas: um goleiro eficiente durante a maior parte do tempo pode tomar um frango no finalzinho; um zagueiro pode cortar errado e meter a bola nas próprias redes (como ocorreu na Copa de 1994 com o colombiano Escobar, que perdeu a vida devido a um gol contra que desclassificou o seu país).
           Essa falta de lógica não torna o futebol inferior aos outros esportes. A lição que ele dá é que é preciso não apenas ser eficiente, como também obter resultados. Se lances fortuitos podem levar à derrota, não se pode dar chances ao adversário. O que conta é o placar, que deve se sobrepor à (má) sorte e aos possíveis erros do árbitro.
          Por tudo isso o futebol é uma excelente imagem da vida. Nela também estamos à mercê da sorte, que às vezes nos leva a “jogar contra o patrimônio”. Nela podemos ser vítimas de juízes ladrões, que voluntariamente ou não nos prejudicam. Mas, de um modo ou de outro, temos que seguir em frente.
          Uma das máximas do futebol é: “Quem não faz, leva.” Na vida também é assim. Ou você age, decide, produz, ou acaba ficando para trás. Isso não quer dizer que se deva estar permanentemente em disputa com o mundo; apenas traduz o reconhecimento de que, na vida, há espaços a ocupar nos quais não cabem todos.
      Vem também do futebol a máxima de que a melhor defesa é o ataque. Ficar na retranca, encolhido, vendo o adversário articular a melhor forma de chegar ao gol é meio caminho para a derrota. Daí a necessidade de contra-atacar, surpreender o outro, fazer da provisória inferioridade uma alternativa de reação. 
      O futebol é uma metáfora da vida, mas pouco do que ele representa pôde ser reconhecido na última terça-feira, quando o Brasil foi derrotado pela Alemanha. O jogo teve lógica, pois os alemães forram superiores a nós desde o início. Os vencedores não se beneficiaram de nenhum lance fortuito nem tiveram a sorte a seu favor. Tampouco Júlio César ou algum zagueiro falhou em determinado lance. Os chutes convertidos em gols foram todos indefensáveis, e a deficiência da zaga era tão homogênea que não se pode falar em falha de um só. 
          Quanto ao juiz, nem de longe interferiu no resultado, e a postura passiva do nosso time concorreu para tornar o trabalho dele mais fácil. É impossível existir briga quando um dos adversários se recusa a lutar.    
        O que explica, então, o retumbante malogro do nosso time? Falha no esquema tático, sim, mas sobretudo um triunfalismo antecipado que mostrava o Brasil como campeão antes de a equipe entrar em campo. Some-se a isto a mitificação de alguns jogadores, que eram apontados como exemplos de raça, liderança, superação; coroados de louros antes de subir ao pódio. Acrescente-se a esses fatores a vaidade de alguns; o técnico, por exemplo, parecia mais interessado em aparecer na televisão do que em treinar a equipe.  
     Faltou humildade, recolhimento, aplicação tática. Sobraram gestos de efeito para sugerir um emocionalismo patriótico que por si não basta para fazer um campeão. O resultado não poderia ser outro. 

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