Desde
os meus tempos de peladeiro, ouço dizer que futebol não tem lógica. É verdade
que nenhum esporte se caracteriza pela racionalidade, mas no futebol a
influência do imponderável parece maior.
Um lance fortuito, ocorrido no último
segundo da partida, pode definir o jogo. Sem falar das falhas humanas: um
goleiro eficiente durante a maior parte do tempo pode tomar um frango no
finalzinho; um zagueiro pode cortar errado e meter a bola nas próprias redes
(como ocorreu na Copa de 1994 com o colombiano Escobar, que perdeu a vida
devido a um gol contra que desclassificou o seu país).
Essa falta de lógica não torna o
futebol inferior aos outros esportes. A lição que ele dá é que é preciso não
apenas ser eficiente, como também obter resultados. Se lances fortuitos podem
levar à derrota, não se pode dar chances ao adversário. O que conta é o placar,
que deve se sobrepor à (má) sorte e aos possíveis erros do árbitro.
Por tudo isso o futebol é uma
excelente imagem da vida. Nela também estamos à mercê da sorte, que às vezes
nos leva a “jogar contra o patrimônio”. Nela podemos ser vítimas de juízes
ladrões, que voluntariamente ou não nos prejudicam. Mas, de um modo ou de outro,
temos que seguir em frente.
Uma das máximas do futebol é: “Quem
não faz, leva.” Na vida também é assim. Ou você age, decide, produz, ou acaba
ficando para trás. Isso não quer dizer que se deva estar permanentemente em
disputa com o mundo; apenas traduz o reconhecimento de que, na vida, há espaços
a ocupar nos quais não cabem todos.
Vem também do futebol a máxima de que a melhor
defesa é o ataque. Ficar na retranca, encolhido, vendo o adversário articular a
melhor forma de chegar ao gol é meio caminho para a derrota. Daí a necessidade
de contra-atacar, surpreender o outro, fazer da provisória inferioridade uma
alternativa de reação.
O futebol é uma metáfora da vida, mas pouco
do que ele representa pôde ser reconhecido na última terça-feira, quando o
Brasil foi derrotado pela Alemanha. O jogo teve lógica, pois os alemães forram
superiores a nós desde o início. Os vencedores não se beneficiaram de nenhum
lance fortuito nem tiveram a sorte a seu favor. Tampouco Júlio César ou algum
zagueiro falhou em determinado lance. Os chutes convertidos em gols foram todos
indefensáveis, e a deficiência da zaga era tão homogênea que não se pode falar
em falha de um só.
Quanto ao juiz, nem de longe interferiu
no resultado, e a postura passiva do nosso time concorreu para tornar o
trabalho dele mais fácil. É impossível existir briga quando um dos adversários
se recusa a lutar.
O que explica, então, o retumbante
malogro do nosso time? Falha no esquema tático, sim, mas sobretudo um
triunfalismo antecipado que mostrava o Brasil como campeão antes de a equipe entrar
em campo. Some-se a isto a mitificação de alguns jogadores, que eram apontados
como exemplos de raça, liderança, superação; coroados de louros antes de subir
ao pódio. Acrescente-se a esses fatores a vaidade de alguns; o técnico, por
exemplo, parecia mais interessado em aparecer na televisão do que em treinar a
equipe.
Faltou humildade, recolhimento, aplicação
tática. Sobraram gestos de efeito para sugerir um emocionalismo patriótico que
por si não basta para fazer um campeão. O resultado não poderia ser outro.
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