domingo, 9 de agosto de 2015

Promessa

Terminado o almoço ele se aproxima do pai, que está quase adormecendo no sofá.  
-- Pai!
-- Hum.
-- A gente pode conversar um pouco?  
-- Hum.
-- “Hum” quer dizer que pode ou não? 
-- Pode. Mas fale logo, que eu quero tirar minha soneca.
         --Tem coisas que eu gosto em você... no senhor, e tem outras que eu não gosto.
-- Por exemplo...
-- Gosto quando me leva pro cinema ou compra gibis pra mim. Não gosto quando me bota de castigo ou não me deixa jogar futebol com a turma. E sobretudo não gosto quando o senhor briga com a mamãe, como agora.
 -- Eu não brigo com ela. Ela é que briga comigo.  
 -- Dá no mesmo. Fico triste de ver os dois discutindo pelos mesmos motivos. E quase sempre ela está com a razão. 
-- Você acha? Às vezes sua mãe exagera...
-- Não é exagero. É cuidado. Ela pensa muito na casa, na família, em nós dois.
-- E eu não penso?! Você é muito pequeno para entender isso. Agora me deixe dormir.
-- Só se o senhor prometer que não briga mais com ela.
-- Por que essa conversa agora?
-- Porque amanhã é seu dia, eu vou ter que lhe dar um presente e não quero fazer isso de má vontade. 
-- “Vai ter”?
-- Não se preocupe. O presente já está comprado e vou lhe dar de qualquer maneira. Mas a gente precisava, antes, ter essa conversa. De homem para homem.
-- De menino para homem, você quer dizer.
-- Está vendo? O senhor não me respeita. “Menino”! O que tem demais ser menino?
-- Nada, contanto que não se meta em assuntos de adulto. Com o tempo você vai compreender que brigas de casal não são o fim do mundo. Acontecem em todo casamento. Isso não quer dizer que os dois não se gostem. Pergunte à sua mãe pra ver se não é verdade. Agora vá, que já está passando a hora de tirar o meu cochilo.
Ele se afasta e volta depois de alguns minutos.
-- Pai...
-- Que é agora?!
       -- Perguntei a ela. Brigas de casal acontecem, mesmo, em todo casamento.
-- Eu não lhe disse?
-- Mas não precisam durar tanto tempo. Por que não aproveita, que amanhã é seu dia, e faz as pazes com ela?  
-- Isso deve partir de sua mãe.
-- Não acho. Esse tipo de decisão deve partir do pai, que é o chefe. Ele é quem toma a iniciativa.  
-- Esta bem. Vou pensar.    
            Era uma promessa, mas o menino ficou contente. Tudo indicava que teria um ótimo Dia dos Pais. 

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O silêncio do inocente