domingo, 18 de setembro de 2016

Metafísica do banheiro

Uma das vantagens de viver só é não ter que esperar para ir ao banheiro.
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Uma privada para uso público é uma contradição em termos.
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Poucos lugares mostram tanto o contraste entre o corpo e o espírito quanto o banheiro. Nele o indivíduo pode, enquanto “se alivia”, imaginar o começo de um poema. E quem garante que a arte abstrata não nasceu de uma prisão de ventre?
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Para muitos, o banheiro é o único lugar de refúgio e solidão – isso até que gritem do outro lado: “Já está perto de terminar?”.
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O risco de casar com alguém claustrofóbico é ter que suportar o banheiro aberto quando ele devia estar fechado. 
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Bem-aventurados os que cantam no banheiro. Esses cantam para si, com alma, independentemente do aplauso alheio. Pouco lhes importa se desafinam. Querem é espantar seus males sob a água alegre, e os outros que tapem os ouvidos.
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Os que transam no banheiro estão mais próximos da animalidade própria do instinto sexual. E são mais objetivos. É lá, afinal de contas, que tudo termina.        
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“Estar no trono” é uma das mais irônicas expressões da nossa língua. Aplicá-la a uma atitude tão prosaica como a de sentar no vaso sanitário é uma forma de escarnecer da nossa pretensa superioridade. É pôr em xeque a suposta realeza de um bicho que se imagina superior, mas come e... descome como os outros.

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