(para
ler cortando)
Acendeu a luz, pressionando o interruptor até ouvir um
clique, e entrou no quarto transpondo o umbral que separava esse cômodo da sala
onde se encontrava. Percebeu que estava sozinho, pois ali não havia ninguém.
Lembrou-se então de telefonar para Lucélia. Fez isso utilizando o único
aparelho que havia no quarto, já que ali não existia outro, e pressionando o
polegar nas teclas que correspondiam ao número da moça. Certamente ela ouviu a
chamada, pois atendeu. E quase imediatamente, uma vez que não se passou muito
tempo, perguntou “quem é” – sinal inequívoco de que não sabia quem tinha
ligado.
Jubilino (esse foi o nome com que o batizaram e que
motivou o seu rompimento com os pais) resolveu não dizer nada antes de falar
alguma coisa e, com isso, romper o silêncio. Lucélia ficou irritada e ameaçou
dizer um palavrão, mas não disse, tanto que permaneceu calada. Sentiu o sangue “ferver-lhe
nas veias”, já que ele não pode mesmo ferver fora delas; se o fizesse, a
queimaria toda -- desde que, obviamente, a expressão não passasse de uma
metáfora.
Jubilino (todo o seu tormento começou com o bullying
que sofrera na escola por causa desse nome; pensou até em trocá-lo por
Astarpácio) resolveu se revelar e acabar com o mistério, que desse modo seria
desvendado. “É Jubilino”, sussurrou em voz baixa para não se ouvir (não sem
evocar, num lampejo que durou pouquíssimo tempo, a figura dos pais e o nefando
dia em que eles foram ao cartório).
Explicou em seguida por que tinha telefonado para Lucélia,
conforme se podia deduzir do fato de ambos estarem conversando naquele momento.
Disse que se sentia só e sem companhia, de modo que precisava de uma. Lucélia perguntou
se aquilo era um pedido de casamento (o que o pegou de surpresa, pois ele não
esperava) e antes que lhe respondesse a moça disse “Aceito!”, o que significava
concordância com o suposto mas não declarado pedido. Jubilino (se os pais não
tinham inspiração, por que não consultaram um guia telefônico?!) sentiu-se
encurralado pela enfática e eufórica reação da moça, que além disso se mostrava
veemente e alegre. Confirmou que era mesmo um pedido de casamento e que, se ela
quisesse, poderiam marcar o dia desde que essa fosse a sua vontade.
O rapaz disse que se casaria dali a um mês se ela pudesse
agora lhe fazer companhia e ficar junto dele no quarto. Lucélia teve pena e,
apiedando-se do seu futuro consorte, disse que iria. E foi, tanto que chegou lá
em alguns minutos e num breve intervalo de tempo. Os dois se abraçaram,
apertando o corpo de um contra o do outro e enlaçando-se por trás, e se
beijaram aproximando os respectivos lábios. Lucélia disse que estava surpresa e
espantada, pois não esperava aquilo. Perguntou quando iriam subir ao altar,
galgando os degraus e se postando diante do padre para dar o sim e, com isso,
afirmar a concordância quanto ao propósito de se casarem. Iriam se tornar marido
e mulher até que a morte os separasse e que os dois fechassem os olhos para
sempre e nunca mais os abrissem.
Jubilino (e pensar que seus pais também tinham dito um
comovente “sim” no altar antes de se casarem e escolherem o nome pelo qual ele
seria chamado!) lhe disse que iria tratar dos papéis e dar entrada nos
documentos, pedindo-lhe em seguida que ela se deitasse ao lado e junto dele. Estava
carente e necessitado. Ela assentiu, concordando, e os dois fizeram amor pela
primeira vez, já que isso nunca ocorrera antes. Lucélia então lhe falou que
queria fazer um pedido. Era sobre o nome da criança que haveriam de ter. “Se
for menino, quero que o nome seja o seu. Acho tão bonito...”.
Ouvindo essas palavras, o rapaz enterrou o rosto no travesseiro, que estava embaixo da sua cabeça, e começou a chorar, fazendo com que dos seus olhos corressem lágrimas. Lucélia, perplexa e atônita, olhava o futuro esposo sem saber o que dizer.
Ouvindo essas palavras, o rapaz enterrou o rosto no travesseiro, que estava embaixo da sua cabeça, e começou a chorar, fazendo com que dos seus olhos corressem lágrimas. Lucélia, perplexa e atônita, olhava o futuro esposo sem saber o que dizer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário