Quando eu era pequeno, ouvi falar de um
“paletó para homem lascado atrás”. As pessoas diziam isso e riam. Eu, claro,
não conseguia entender. Sempre me lembro dessa frase quando penso na hipálage, figura
sintática que representa um “deslocamento de atribuição”.
A hipálage pode ser um recurso
literário, como nesta passagem: “Fiquei olhando o voo branco das garças”, em
vez de “O voo das garças brancas”. O deslocamento do adjetivo “branco” (de
“garças” para “voo”) enriquece visualmente a imagem.
Voltando à minha lembrança. O normal é:
“paletó lascado atrás para homem”. O problema é que, nessa ordem, desfaz-se a malícia
-- e com ela, a graça.
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Foi preciso mais de 100 presos morrerem
em chacinas para se concluir que o maior problema dos presídios brasileiros
é... a burocracia. Propõe-se agora soltar os que não deveriam estar mais atrás
das grades.
O medo é que o velho “jeitinho” exerça
aí o seu papel e se acabe mandando para a rua mais gente do que o desejável.
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Segundo Voltaire, o segredo de
aborrecer é dizer tudo. Dizer tudo, além de deixar o leitor impaciente,
tira-lhe o prazer de compreender por si. É uma forma de subestimar sua
inteligência.
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Não tenho nada contra quem pinta o cabelo.
É louvável o esforço de querer parecer mais jovem, driblar os anos. O problema
é que às vezes se carrega na tinta. O ideal seria esconder o artifício, negar que o
tingimento é fingimento. Como não se faz isso, o efeito algumas vezes chega a
ser patético.
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