É divertido ver aquele pessoal
que se atrasa para a prova do Enem. Teve um que chegou cerca de dois segundos
antes de o portão fechar. Agora vai ter mais um ano para treinar e ver se melhora
o tempo.
A corrida para chegar na hora termina
dando certa literalidade à expressão “maratona do Enem”; tem até torcida. O Inep devia pensar
nisso e instituir um prêmio para os primeiros colocados.
Como a imprevidência quanto ao horário
é sugestiva de outros descuidos, os atrasados certamente não vão passar. O prêmio
poderia servir de consolo.
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Gostei do tema da redação do Enem. Gostei
até por motivos pessoais. Conheço de perto a batalha dos surdos para vencer a
discriminação, ter acesso à escola e conquistar um lugar no mercado de
trabalho.
Apenas achei que a temática da educação
inclusiva, por ser abrangente, poderia envolver outros grupos com necessidades
especiais. O aluno teria mais elementos para se posicionar e apresentar seus
argumentos. O que os textos motivadores trouxeram é pouco para cobrir um
assunto complexo como a “formação educacional” (expressão redundante) dos surdos.
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O modelo de redação do Enem precisa ser
repensado. A dissertação argumentativa é, de fato, o melhor gênero para avaliar
de forma isenta o aluno (a narração, por exemplo, demanda habilidades mais de
escritor do que de redator). O problema é que o formulismo com o qual esse gênero
tem sido ensinado vem cerceando a inteligência e a criatividade dos alunos.
Parágrafos feitos de generalidades, citações
aplicáveis a qualquer tema, propostas de intervenção que envolvem os mesmos
agentes e ações são alguns dos recursos que podem ser "estocados" (já vi citações
que nada tinham a ver com o tema em redações que obtiveram 1000). A memória passa
a ser mais importante do que o raciocínio e a imaginação.
Minha proposta é que se volte à
variedade de gêneros, incluindo outras possibilidades como o resumo, o
comentário crítico, a carta argumentativa.
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