A
primeira explicação para a chacina que ocorreu em Suzano é que os atiradores foram
vítimas de bullying. Não se descarta essa hipótese, mas a ela devem se associar
outras.
A escola
é um desafio para poucos. Demanda estudo, disciplina, obediência a superiores,
enfim, uma série de tarefas que exigem esforço e compenetração. Nem todos têm a
energia e o estímulo necessários para lidar com essa empreitada. Nem todos têm
em casa pais e mães que os façam ver a importância dos estudos e os obriguem a frequentar
as aulas.
Na
origem da atitude dos assassinos devia estar também a raiva dos que se dispunham
a encarar o desafio de ser estudantes. O estudo cria oportunidades para o
futuro, e foi justamente o futuro dos colegas que eles trataram de suprimir
(não fosse a chegada da polícia, teriam matado muito mais gente).
Impressionou-me
o arsenal que eles portavam – além do revólver, machados e uma balestra. As duas últimas armas não se usam mais. Evocam os combates do homem primitivo. Se a
escola representa o progresso, que é produto do conhecimento, os artefatos
bélicos dos atiradores evocam o primitivismo e a barbárie. Simbolizam a irracionalidade
e o furor animal de que estavam possuídos.
Sei que
essa interpretação talvez ignore fatores ligados às pressões do momento. Houve
atentados semelhantes no exterior (os dois buscaram, segundo se diz, reproduzir
a mortandade de Columbine) e mesmo entre nós. Por inspiração governamental o
Brasil tem sido encorajado a se armar, e a gente sabe a força que esse tipo de
apelo tem nos jovens. Tais fatores, contudo, não invalidam a hipótese de que um
dos estopins para aquela orgia de pólvora foi o ressentimento. O ressentimento
e a impotência ante a impossibilidade de encarar o futuro.
Foi
essa impotência que os fez alimentar uma falsa ideia sobre o que é obter reconhecimento
social. Para eles, o nome na mídia seria um meio de adquirir fama e “passar
para a História”. A internet vem potencializando esse tipo de distorção. Ela
concorre para que se confunda a fama, que é passageira, com a glória, que sela positivamente
um nome na lembrança do mundo. Vi a postagem de um colega dos assassinos
(frequentava inclusive a mesma lan house) exaltando-os como heróis.
Que
heroísmo pode haver em matar sem razão pessoas desprevenidas e inocentes? O heroísmo
tem uma causa, respalda-se num valor, implica sacrifício e desejo de justiça. Talvez
o colega tenha considerado heroico o gesto final de tirarem a própria vida.
Ora, essa atitude só consagrou a covardia. Eles escolheram se matar por medo de
assumir as consequências e enfrentar a Lei.
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