segunda-feira, 18 de março de 2019

Não foi só bullying


A primeira explicação para a chacina que ocorreu em Suzano é que os atiradores foram vítimas de bullying. Não se descarta essa hipótese, mas a ela devem se associar outras.
A escola é um desafio para poucos. Demanda estudo, disciplina, obediência a superiores, enfim, uma série de tarefas que exigem esforço e compenetração. Nem todos têm a energia e o estímulo necessários para lidar com essa empreitada. Nem todos têm em casa pais e mães que os façam ver a importância dos estudos e os obriguem a frequentar as aulas.
Na origem da atitude dos assassinos devia estar também a raiva dos que se dispunham a encarar o desafio de ser estudantes. O estudo cria oportunidades para o futuro, e foi justamente o futuro dos colegas que eles trataram de suprimir (não fosse a chegada da polícia, teriam matado muito mais gente).   
Impressionou-me o arsenal que eles portavam – além do revólver, machados e uma balestra.  As duas últimas armas não se usam mais.  Evocam os combates do homem primitivo. Se a escola representa o progresso, que é produto do conhecimento, os artefatos bélicos dos atiradores evocam o primitivismo e a barbárie. Simbolizam a irracionalidade e o furor animal de que estavam possuídos.
Sei que essa interpretação talvez ignore fatores ligados às pressões do momento. Houve atentados semelhantes no exterior (os dois buscaram, segundo se diz, reproduzir a mortandade de Columbine) e mesmo entre nós. Por inspiração governamental o Brasil tem sido encorajado a se armar, e a gente sabe a força que esse tipo de apelo tem nos jovens. Tais fatores, contudo, não invalidam a hipótese de que um dos estopins para aquela orgia de pólvora foi o ressentimento. O ressentimento e a impotência ante a impossibilidade de encarar o futuro.
Foi essa impotência que os fez alimentar uma falsa ideia sobre o que é obter reconhecimento social. Para eles, o nome na mídia seria um meio de adquirir fama e “passar para a História”. A internet vem potencializando esse tipo de distorção. Ela concorre para que se confunda a fama, que é passageira, com a glória, que sela positivamente um nome na lembrança do mundo. Vi a postagem de um colega dos assassinos (frequentava inclusive a mesma lan house) exaltando-os como heróis.
Que heroísmo pode haver em matar sem razão pessoas desprevenidas e inocentes? O heroísmo tem uma causa, respalda-se num valor, implica sacrifício e desejo de justiça. Talvez o colega tenha considerado heroico o gesto final de tirarem a própria vida. Ora, essa atitude só consagrou a covardia. Eles escolheram se matar por medo de assumir as consequências e enfrentar a Lei.

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O silêncio do inocente