terça-feira, 30 de abril de 2019

O mito e o risco

Todo mito
passa um pito
nos que lhe entoam benditos.

O mito só faz sentido
quando a olhos comovidos
disfarça, sem alarido,
o seu avesso escondido.

Os que o consagram nos ritos
(com mãos postas, ar contrito),
se o vissem desvestido
da aura que o mantém vivo,

teriam, desiludidos,
que mudar o veredicto
e procurar outro arrimo
para seus ermos espíritos.

Não pode viver sem mitos
o homem — ser tão restrito,
que deles subtraído
erra no Nada infinito.

E dessa carência, o risco
(ante o anseio mofino
de a tudo entoar um hino)
é perder o senso, o tino,
privar-se do humano exílio,
que o põe além dos bichos.

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