Nada pode acontecer de pior a uma
pessoa do que obter aquilo que mais deseja. Atingir essa meta é perder a
motivação para alcançá-la e se contentar com objetivos secundários, que vão
motivá-la pouco. Além disso, como em todo desejo há muito de ilusão, a meta
alcançada sempre se revela menos grandiosa do que quando não a conquistamos. O
prejuízo é então duplo – pelo pouco que representa o que desejávamos e pela
insignificância do que nos resta alcançar.
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A amizade é por excelência um
sentimento desinteressado. Nela não interfere o sexo nem a cumplicidade.
Queremos um amigo pelo prazer de ter alguém perto. Alguém com quem conversar ou
ficar em silêncio. Alguém que nos compenetre tão profundamente da ideia do
Semelhante, que nos permita partilhar sem reservas a nossa humanidade.
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A frustração resulta de um malogro da
vontade – e o depressivo não tem vontade. Seu propósito, aliás, é “querer”
alguma coisa, ou seja, ter vontade de alcançá-la, possuí-la. Sua frustração
decorre, não de não ter alcançado algo, mas de não se propor a isso.
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As palavras não têm sentido por si.
Cada qual as interpreta como as sente. Dá-lhes um significado em função das
próprias crenças. Isso explica, por exemplo, o valor que tem para um cristão
uma passagem da Bíblia; para um muçulmano, um versículo de Maomé; ou, para um
marxista, um trecho de “O capital”. A fé necessita de uma semântica para se
expressar (e mesmo se edificar). Acreditar numa religião ou num sistema
político é acreditar no sentido que os traduz. Nem sempre essa tradução é clara
— às vezes precisa mesmo de alguma obscuridade para preservar o “mistério” que
os torna imunes à razão.
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Amigos gostam de me perguntar se sou
direita ou esquerda. Acho complicado escolher um lado ou outro sem saber o que objetivamente
está em causa (para falar a verdade, sempre preferi entrar pelo meio). Mas já
que eles insistem, vamos lá. Defino-me como um direitista gauche. E quem quiser
que (des)entenda.
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