Vi depoimentos
de pessoas que foram infectadas com gravidade pelo coronavírus e escaparam.
Chamou-me a atenção o que disse um senhor ainda debilitado e de máscara: “É
como se afogar no seco.” Vejam o que é a força de uma imagem. Ouvimos o tempo todo
que a Covid-19 destrói os alvéolos pulmonares. Isso impressiona, claro, mas é abstrato
e conceitual. A imagem, ao contrário, tem o poder da concretude. Atinge mais os
sentidos do que o intelecto. Gera identificação por nos fazer partilhar de um
afeto, uma sensação, um sentimento. Que informe emitido por uma autoridade médica
nos impressionaria tanto, quanto a declaração feita por um ex-infectado de que parecia
“se afogar no seco”? Fui dormir apreensivo. Nada do que eu tinha ouvido até aquele
momento me evocara com tamanha intensidade o mais angustiante sintoma dessa doença, que é a falta de ar.
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