quarta-feira, 29 de outubro de 2025

Dia Nacional do Livro

 


       A experiência de ler é a mais profunda em termos de comunicação com o semelhante. Nosso diálogo com os outros é incompleto, limitado por entraves sociais e afetivos. Ninguém se abre para nós com a amplitude e a intensidade com que os personagens o fazem. Eles não têm segredos e, ao revelar-se, dizem muito de nós.

quinta-feira, 23 de outubro de 2025

Custos terapêuticos

                

                 Um médico da mente resolveu cobrar dos que o procuram conforme os sintomas que eles apresentam. Com base nisso, estabeleceu os seguintes critérios:

— Acrófobos: o preço do tratamento não pode ficar nas alturas.

— Psicóticos: as mensalidades são divididas em duas ou mais parcelas. 

— Deprimidos: só sabem do custo das sessões quando saem da crise. 

— Obsessivos: recebem uma gravação sobre o valor do pagamento para ouvirem várias vezes ao dia, até se acharem (ou não) esclarecidos.

— Melancólicos: para não se queixarem dos custos, são advertidos de que no passado não havia tratamento eficiente para o seu mal.

— Narcisistas: são cobrados na proporção do amor que têm por si mesmos. 

— Claustrófobos: o preço varia de acordo com a sua renda mensal, para que não se vejam no aperto.

— Maníacos: a mensalidade sobe gradativamente a fim de lhes moderar a injustificada euforia.

— Histéricos: pagam uma taxa extra caso se mostrem excessivamente dramáticos para chamar a atenção do médico.

— Megalomaníacos: São cobrados na moeda de maior cotação do câmbio até caírem no real, digo, na real.

— Paranoicos: Recebem na primeira consulta a informação de que, caso deem calote em alguma mensalidade, um funcionário os persegue até a quitação da dívida. 

— Ansiosos: Podem pagar o tratamento de uma vez logo na primeira sessão. O médico estima a quantia, para os libertar do temor de que possam ficar em débito.

sexta-feira, 17 de outubro de 2025

Lição de aprender

      O magistério não deixa de ser um teatro. Um teatro sem drama nem tragédia, pois nele não há personagens sofrendo as penas decorrentes de suas faltas. O professor é um ator calmo e às vezes impessoal, mas não pode dispensar a ênfase, o élan que lhe possibilite dominar a turma.

        O termo “dominar” sugere disputa. Na classe há um jogo de forças em quem e o professor, por mais que não goste, representa a autoridade e a norma. Os alunos seriam a rebeldia natural a ser domada. Por isso eles o veem com desconfiança e têm um secreto prazer em contestá-lo. 

        Nem sempre se vai ao mestre com carinho. O mais das vezes, o que se destina ao professor é o espinho de um dito cortante, uma pergunta desafiadora, uma molecagem que provoca risos. 

        A disputa a que me refiro, entendam-me, faz parte da dramatização da sala de aula. Não quero dizer que, no fundo, o aluno não admire o bom professor e um dia não chegue a amá-lo. Como esse amor só nasce depois, sendo fruto de um reconhecimento que pressupõe maturidade, é bom que o mestre esteja preparado para enfrentar a fúria barulhenta dos rebeldes.

        Com alguma psicologia tudo acaba dando certo. O primeiro passo é evitar as tediosas e ineficazes lições de moral. Elas eram, no meu tempo de estudante, o que mais me divertia. Primeiro porque não passavam de um discurso óbvio, que terminava realçando a distância entre quem ensina e quem aprende.

        Segundo, porque geralmente vinha daqueles que não ensinavam bem. Era como se precisassem daqueles discursos ribombantes, às vezes coléricos, para compensar a fraqueza didática e o pouco domínio das disciplinas que lecionavam.

       Aprendi a partir daí que a lição mais eficaz não é a de moral. Nada melhor, para manter a turma quieta, do que mostrar-lhe o quanto ela precisa aprender.

Devaneios sobre a cama