“Meu nome não é Johnny” está fazendo um enorme sucesso entre os adolescentes. Um dos possíveis motivos para isso é a personalidade do personagem principal. Rapaz comum de classe média, João Estrela gosta de baladas, garotas e dinheiro. Entra no tráfico mais para “curtir” do que para obter lucro com o comércio das drogas.
O filme tem um sentido pedagógico: o envolvimento de Estrela com o tráfico é proporcional ao alheamento dos pais. A habilidade do diretor está em fazer com que esse didatismo atinja a platéia de modo sutil; o roteiro não transpira nenhuma “mensagem edificante”, mas vincula a atividade marginal do personagem a falhas na sua educação.
O pai não soube se constituir em referência nem exemplo. Pelo contrário: vítima do próprio vício (o cigarro), que não teve forças para largar, adoece e se transforma numa figura deplorável. É pungente o seu sofrimento no quarto, sozinho, entre ataques de tosse e falta de ar – enquanto no térreo Estrela e os amigos se drogam ao som de música estridente.
O problema é que ele não puniu quando deveria punir, preferindo ser “amigão” do filho. Lembrou-me o pai de Brás Cubas, que em público fingia bater mas, escondido, aplaudia as traquinagens da criança. Ele foi o “esterco de onde brotou aquela flor” deteriorada – para repetir a expressão do narrador.
Brás Cubas não virou traficante nem fornecedor de drogas, naquele tempo não se falava nessas coisas. Mas se transformou num indivíduo sem vontade, incapaz de vencer na política e desencantado com a espécie humana. No fim da vida, considerou um ganho não ter legado filhos ao mundo.
João Estrela vive em outra época. Mas, tal como o personagem de Machado, tem amor ao luxo e ao dinheiro fácil. Deslumbra-o toda aquela grana e, sobretudo, fascina-o a importância que adquire como fornecedor privilegiado. A droga lhe traz poder, são muitos os que dependem dele.
O fato de o personagem ser um jovem como outro qualquer incomoda, pois mostra quão perto das drogas podem estar nossos filhos. Num mundo em que parece cada vez mais tênue a fronteira entre o crime e a lei, esse incômodo vira preocupação.
João Estrela aparece mais como vítima do que como criminoso, tanto é assim que a juíza o envia para um manicômio e não para a prisão. Mas a aparente inconsciência com que vive tudo aquilo não o redime dos seus atos. Pelas articulações que fazia para conseguir o pó, era impossível que não soubesse com quem estava lidando. Não existem inocentes nesse tipo de história.
sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008
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