Depois de uma noite de sono em que não
dormi, tenho enfim uma tese sobre a crise que toma conta do Brasil. Não penso
com ela resolver os problemas do país (mesmo porque não conseguiria), mas pelo
menos resolvo o meu, que é o de encher as linhas desta coluna e mandá-la,
enfim, à redação.
A minha tese se inspira na máxima de
alguém que não dava a mínima para as preocupações. Achava que a melhor forma de
superar um obstáculo era contorná-lo, ou seja, evitar enfrentá-lo. Aplicando
esse conselho ao panorama atual, o melhor meio de resolver a crise é mesmo
ignorar que ela existe; dar o troco na mesma moeda aos administradores e
políticos que sempre fizeram questão de nos ignorar. Isso porque uma coisa é
certa: o povo gosta de circo, mas não aceita que o façam de palhaço.
As coisas deram errado, claro, porque
não deram certo; do contrário, seria o oposto. Mas não devemos perder a
esperança; amanhã será outro dia, desde que cheguemos lá. Quando o governo está mal, não custa mudar
para um pior e ver o que acontece. No atual momento brasileiro, observamos um
confronto entre a incompetência e o oportunismo. Nesses casos o oportunismo
sempre ganha, até que eventualmente prove a sua incompetência e seja retirado do
poder. E assim vai a nave.
O Brasil tinha pressa, mas quiseram
imprimir a ele a velocidade de uma bicicleta. O resultado é que ninguém
suportou mais as pedaladas e começou a protestar por mais agilidade e limpeza.
Tratou-se então de convocar uma Lava-Jato, que por definição atende a esses
requisitos. Ocorre que a faxina está sendo mais rápida do que se esperava, e
mais profunda do que se temia. Meu medo é que desistam da faxina e deixem tudo
como estava. Afinal, estamos preparados para aceitar a verdade que mora num
poço (ou em vários, já que se trata da Petrobras), mas não num esgoto.
Vivemos num país em que a corrupção
grassa, e isto não nos sai de graça. Com a corrupção, além dos impostos, pagamos
também pela propina, que é uma espécie de imposto escuso. Para completar, os
propineiros e propinados costumam gastar seus pixulecos em países de moeda bem
mais forte do que a nossa (dólar, euro, libra). Eles poderiam, pelo menos,
frequentar hotéis, restaurantes e shoppings daqui mesmo. Isso diminuiria a taxa
de desemprego, já tão alta, e não implicaria ônus cambial para o contribuinte
brasileiro.
Alega-se que o país está à beira de um
golpe. Só se for de sorte. De sorte, sim, pois se uma coisa o atual momento
evidencia é que a nação tem mecanismos institucionais sólidos para garantir o
regime democrático. Respeitamos todos os discursos, inclusive os pornográficos,
que abundam (epa!) na fala de alguns políticos famosos (foi de bom-tom Moro
proibir a divulgação de novas gravações, do contrário teríamos que tirar as
crianças da sala). Estamos dispostos a ouvir todas as partes (desde que não
seja na hora da novela ou do futebol, claro). E o mais importante: vimos nos
últimos meses a polícia perseguir gente grossa, os chamados “tubarões”, em vez
dos tradicionais ladrões de galinha.
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