Vez
por outra a mídia noticia um ato violento ocorrido na escola. Quando não é um
colega que fura outro, é um grupo de alunos que agride o professor. Há diretores
solicitando a presença da polícia para que as aulas transcorram em paz.
Não estou falando do bulllying, um
tipo de agressão que sempre existiu mas pelo menos cobria o rosto. Trazia e
ainda traz danos sérios, mas nem sempre se traduzia em facadas ou tiros. E
poupava o professor. Refiro-me a uma espécie de banditismo explícito, que
agride sem sutilezas psicológicas e vem transformando o ambiente escolar num
espaço de hostilização e terror.
Cresci ouvindo a associação da escola a
um templo -- um “templo do saber”. Havia nessa bela imagem o reconhecimento do
valor que se dava às atividades do espírito. Na escola o homem aprende, se
instrui, transcende sua animalidade natural. Lá ele constrói sua humanidade a
partir de um legado precioso -- o saber acumulado pelas gerações, que vai aos
poucos delineando nosso perfil existencial e ético (lembro aqui Sartre: o homem
não tem uma “essência”, tem uma “condição”; seu desafio é se construir a partir
da consciência, ou seja, da liberdade).
Se o que nos distingue dos outros
animais é a educação, a escola constitui o espaço onde privilegiadamente se
demonstra isso. Ela prolonga a família numa dimensão democrática e salutar, pois
desconhece manhas, manias e privilégios deformadores comuns dentro de casa. A
escola é um pouco como a igreja -- e não à toa se usa (ou usava) a palavra “templo”
para caracterizá-la.
Hoje uma imagem como essa nos soa
despropositada e mesmo ridícula. Como falar em templo num lugar de perseguições
e escaramuças? Como conciliar a ideia de reflexão e estudo com os atos
sanguinários que a TV vem nos mostrando? Boa parte dos alunos parece haver
trocado o lápis, ou a caneta, pela faca ou o revólver -- e que história vão escrever
com esses instrumentos? Quando não brigam entre si, eles brigam com o
professor, que consideram um oponente em vez de um aliado. Parece que não estão
ali para aprender, mas para enfrentar alguém que representa um obstáculo em
suas vidas e deve ser destruído.
Essa forma distorcida de avaliar o mestre, e por
extensão a escola, é o dado mais preocupante. Nossos jovens não apreendem o sentido
de estudar, educar-se, evoluir intelectualmente para atuar no mundo. Um dos
motivos para isso, talvez, é que não acreditam nos valores que a instituição
escolar defende e transmite. Como se a escola tivesse um discurso que não bate
com a vida real, onde as coisas são decididas pela tramóia, a truculência e o dinheiro.
Como se ela os desviasse do que realmente conta.
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