O beijo é o selo da paixão. Não se concebe sem ele o encontro de duas pessoas que se desejam. Hollywood, em suas produções românticas, consagrou-o como uma marca de final feliz. Para os casais apaixonados, ele é o prólogo de outras entregas. Daí o seu fascínio.
Nelson Rodrigues escreveu que é com o
primeiro beijo que se perde a virgindade. Faz sentido. Quem beija tem a posse não
apenas física, como também espiritual, do outro. Ele é uma permuta de haustos
que se irradiam a outras esferas do corpo e tocam o espírito. Tanto é assim que
as profissionais do sexo não beijam nem se permitem beijar. Quando gostam de
alguém, então, esse possível gesto do cliente lhes soa como uma ofensa.
Há beijos e beijos, claro. Os
pudicos, que envolvem apenas o roçar dos lábios; os de língua, próprios dos
apaixonados (esses dão água na boca); e os osculares, que parecem mais um tributo
do que uma troca sensual.
Segundo os especialistas, existem técnicas para
se beijar bem. Os lábios não podem estar nem cerrados nem muito abertos. No primeiro
caso, a crispação pode sugerir que a pessoa não está receptiva ao ato e levar o
parceiro a desistir. Às vezes essa impressão é ilusória, como se vê no beijo
que Capitu deu em Bentinho; o abrochar dos lábios dela atiça o desejo do
ex-seminarista. Já o segundo caso dá a entender que o beijador não passa de um guloso
sem estilo. É preciso certo refinamento para não tirar do beijo a estética, um
dos seus atributos mais apreciados.
Tudo que é bom tem seus detratores, e
o beijo não escapa a essa regra cruel. Li que, durante ele, os parceiros destinam
um ao outro parte da “microbiota” de suas línguas. Fui pesquisar essa palavra esquisita
e descobri que ela designa a flora e a fauna de uma região. É isso, amigos,
nossa língua é literalmente suja e parte dessa sujeira se transporta à saliva
do parceiro quando um casal se beija. Para se ter uma ideia, num beijo
apaixonado de 10 segundos ocorre a troca de 80 milhões de bactérias. Que dizer
então daqueles que, pelo gosto dos apaixonados, deveriam durar uma eternidade?
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