Amanhã é o Dia das Mães, uma data que desperta muitas emoções e deve ser comemorada à altura daquelas que homenageia. Fiquei imaginando quem eu poderia escolher como um exemplo de maternidade para marcar a efeméride. Ocorreu-me que seria a mãe daquele rapaz que, dirigindo um Porsche a mais de 100 quilômetros por hora, bateu num carro de aplicativo e matou seu ocupante – um senhor de 52 anos.
Vocês podem estranhar a escolha, mas, se pensarem bem, vão ver que tenho
razão. Avaliemos os fatos: o rapaz, visivelmente alcoolizado segundo testemunhas,
foi levado a uma delegacia à qual a mãe também compareceu. Vendo a situação em
que estava o filho e sabendo que a embriaguez podia incriminá-lo, tratou de tirá-lo
dali com a alegação de que o levaria a um hospital. O garoto podia ter batido
com a cabeça e vir a sofrer uma hemorragia interna...
Ante aquela demonstração
de zelo – afinal, mãe é mãe –, os policiais permitiram que o levasse sem terem
feito o teste do bafômetro. Mas não para onde ela tinha prometido, e sim para casa.
Num hospital facilmente perceberiam o estado do rapaz e fariam o registro no prontuário.
Mãe que é mãe pensa em tudo para preservar a sua prole. Além do mais, como diz
Machado, há mentiras piedosas, e certamente está entre elas a de quem falta com
a verdade para proteger um rebento seu.
Talvez alguém ache
um despropósito, numa data especial como a de amanhã, exaltar uma mãe cujo
filho dirigia sob o efeito de álcool e fazia de uma via urbana pista de corrida
(o jovem tinha várias multas por excesso de velocidade e já se envolvera em
dois acidentes de trânsito). Isso não seria um sinal de falha na educação? Espera-se
se do zelo materno, afinal de contas, que venha a incutir nas crianças respeito
pelos outros e responsabilidade por seus atos, e não atitudes insanas que levem
à morte de inocentes.
Não se pode dizer que essa senhora não procurou transmitir ao filho tais
valores. Se fez isso e falhou, a culpa não terá sido unicamente dela. Vivemos
num mundo em que são muitos os apelos para que as pessoas tenham dinheiro,
status, posição, o que geralmente é medido pelo patrimônio que acumulam.
O Porsche que o rapaz arremeteu contra o Sandero do motorista de
aplicativo é avaliado em um milhão e trezentos mil reais, o que sugere outros
bens que a família deve possuir, e não se adquire tais bens centrando os
esforços unicamente na educação dos filhos. Ela toma tempo, energia. E a escola
pode muito bem cumprir esse papel – mesmo porque o rapaz não devia ter estudado
numa dessas instituições públicas que remuneram mal os professores e onde há
carência de infraestrutura.
O fato é que, se a
mãe mentiu para retirar o infrator do escrutínio dos policiais, o garoto
mostrou que seguiu a lição. Na reportagem que o Fantástico levou ao ar sobre o
crime, ele sustentou que antes de dirigir o Porsche não tinha bebido nada de
álcool. Estava na companhia de amigos e da namorada, que tomaram uns drinques, e
só ingerira água.
Não deixou claro por que a namorada se recusou a ir com ele no Porsche;
sabendo-o alcoolizado, deixou que o banco do carona fosse ocupado por um amigo.
O sexto sentido feminino, ou talvez a simples prudência diante do que
constatava, terminou evitando que ela talvez viesse a morrer. O tal amigo, mais
resistente por ser homem, ainda assim machucou-se a ponto de perder o baço.
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