sábado, 11 de maio de 2024

Em nome de um pai

                     


   

           Amanhã é o Dia das Mães, uma data que desperta muitas emoções e deve ser comemorada à altura daquelas que homenageia. Fiquei imaginando quem eu poderia escolher como um exemplo de maternidade para marcar a efeméride. Ocorreu-me que seria a mãe daquele rapaz que, dirigindo um Porsche a mais de 100 quilômetros por hora, bateu num carro de aplicativo e matou seu ocupante – um senhor de 52 anos.

        Vocês podem estranhar a escolha, mas, se pensarem bem, vão ver que tenho razão. Avaliemos os fatos: o rapaz, visivelmente alcoolizado segundo testemunhas, foi levado a uma delegacia à qual a mãe também compareceu. Vendo a situação em que estava o filho e sabendo que a embriaguez podia incriminá-lo, tratou de tirá-lo dali com a alegação de que o levaria a um hospital. O garoto podia ter batido com a cabeça e vir a sofrer uma hemorragia interna...

Ante aquela demonstração de zelo – afinal, mãe é mãe –, os policiais permitiram que o levasse sem terem feito o teste do bafômetro. Mas não para onde ela tinha prometido, e sim para casa. Num hospital facilmente perceberiam o estado do rapaz e fariam o registro no prontuário. Mãe que é mãe pensa em tudo para preservar a sua prole. Além do mais, como diz Machado, há mentiras piedosas, e certamente está entre elas a de quem falta com a verdade para proteger um rebento seu.

Talvez alguém ache um despropósito, numa data especial como a de amanhã, exaltar uma mãe cujo filho dirigia sob o efeito de álcool e fazia de uma via urbana pista de corrida (o jovem tinha várias multas por excesso de velocidade e já se envolvera em dois acidentes de trânsito). Isso não seria um sinal de falha na educação? Espera-se se do zelo materno, afinal de contas, que venha a incutir nas crianças respeito pelos outros e responsabilidade por seus atos, e não atitudes insanas que levem à morte de inocentes.  

          Não se pode dizer que essa senhora não procurou transmitir ao filho tais valores. Se fez isso e falhou, a culpa não terá sido unicamente dela. Vivemos num mundo em que são muitos os apelos para que as pessoas tenham dinheiro, status, posição, o que geralmente é medido pelo patrimônio que acumulam.

          O Porsche que o rapaz arremeteu contra o Sandero do motorista de aplicativo é avaliado em um milhão e trezentos mil reais, o que sugere outros bens que a família deve possuir, e não se adquire tais bens centrando os esforços unicamente na educação dos filhos. Ela toma tempo, energia. E a escola pode muito bem cumprir esse papel – mesmo porque o rapaz não devia ter estudado numa dessas instituições públicas que remuneram mal os professores e onde há carência de infraestrutura.   

O fato é que, se a mãe mentiu para retirar o infrator do escrutínio dos policiais, o garoto mostrou que seguiu a lição. Na reportagem que o Fantástico levou ao ar sobre o crime, ele sustentou que antes de dirigir o Porsche não tinha bebido nada de álcool. Estava na companhia de amigos e da namorada, que tomaram uns drinques, e só ingerira água.

          Não deixou claro por que a namorada se recusou a ir com ele no Porsche; sabendo-o alcoolizado, deixou que o banco do carona fosse ocupado por um amigo. O sexto sentido feminino, ou talvez a simples prudência diante do que constatava, terminou evitando que ela talvez viesse a morrer. O tal amigo, mais resistente por ser homem, ainda assim machucou-se a ponto de perder o baço.   

         Dirão que essa é uma história triste e que não deveria ser contada na véspera do Dia das Mães. Discordo. Se uma mãe teve nela certo protagonismo, mesmo atuando com uma ética duvidosa para proteger sua cria, valem o registro e a celebração. Triste mesmo vai ser, para os filhos do motorista Ornaldo da Silva Viana, o próximo Dia dos Pais.

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Um nome de mulher