quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

Sobre o tempo e o prazo

Deus criou o tempo, e o Diabo nos fez criar o prazo. 

O tempo (ou a percepção de que existe algo com esse nome) é um fluir interminável, do qual participa (e depende) tudo que existe na Natureza e no Cosmo. É a condição para que as coisas mudem e a vida se processe do nascimento à morte. Ele não tem fronteiras, pois constitui um eterno devir. 

Já o prazo é uma fração do tempo determinada pelos deveres e compromissos que a vida social nos impõe. É arbitrado segundo intenções bem concretas, atendendo a limites que nos obrigam a agir, o mais das vezes, sob pressão. É, enfim, a substituição do devir pelo dever.

O tempo tem algo de transcendente e imodificável (a não ser na equação einsteiniana), enquanto que o prazo se estica ou reduz conforme determinados apelos ou circunstâncias; e depende da forma como sentimos determinados eventos. 

Quem não já percebeu que o que é ruim passa mais devagar? Ou, para lembrar Bergson, “dura” mais? A duração, categoria intuída pelo filósofo francês, está ligada ao  prazer ou desprazer que os acontecimentos provocam em nós.

Quando alguém diz que quer “um pouco mais de tempo” para saldar uma dívida ou vivenciar uma experiência, quer na verdade dizer que deseja um prazo maior. O tempo é inteiro e não se quantifica.

Nosso medo da morte se liga, não à passagem do tempo, mas à constatação de que a vida tem um prazo ditado pelas condições biológicas. O prazo nos faz naufragar no rio do tempo, cujo fluir se confunde com a eternidade. 

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