É
comum em saites de divertimento ou em redes sociais a exposição de pessoas quando
estão novas e quando envelhecem. De forma por vezes maliciosa, os redatores
expõem as fotos com legendas que enfatizam o contraste entre o rosto de ontem e
o de hoje. O alvo é quase sempre alguém que pela beleza ganhou fama, admiração,
suspiros apaixonados dos fãs. Como um contraste a isso, o autor das postagens
parece lembrar: “Quem te viu, quem te vê”.
O
que está na base dessa atitude, mais do que a disposição de ferir ou depreciar
figuras específicas, é um generalizado desprezo pela velhice. Embora se viva
mais hoje, e os idosos ou mesmo os velhos cada vez mais frequentem locais como
clubes e academias, há por parte de muita gente uma disposição hostil para com
eles.
Essa
hostilização faz pensar, por antítese, no chamado "Poder Jovem",
expressão associada ao livro de Arthur José Poerner que exalta a disposição
política dos estudantes brasileiros durante o período da ditadura militar
(1964-1985). O livro de Poerner “narrava a história do movimento estudantil e
sua atuação em momentos cruciais da história do país, ressaltando o potencial
dos jovens como agentes de transformação social e política.”
A
obra destaca o idealismo da juventude e a sua vontade de contestar o status quo
então vigente, marcado pela repressão aos movimentos sociais e pelo cerceamento
de liberdades fundamentais ao indivíduo. Disso veio uma espécie de entronização
dos jovens, considerados a partir daí como os principais agentes de
transformação da sociedade. Chegou-se a dizer que não se devia confiar em
ninguém com mais de 30 anos, como se a idade fosse um referencial de caráter.
No
poema “Velhice”, Olavo Bilac parece antecipar o que hoje é corriqueiro nas
redes sociais. Sem meias palavras, escreve: "A velhice é cousa vil!/ Faz a
alma informe e feia./ Desfaz a antiga ideia/ Da formosura juvenil." São
versos que pintam de forma nostálgica e sombria o envelhecimento. E tanto mais
deprimem, quanto mais ressaltam a feiura da velhice em contraposição à beleza
da juventude.
Será
mesmo a velhice uma “coisa vil”? O que
haveria de desprezível nas pessoas que estão nesse período da vida? Elas não
têm mais a beleza da juventude e padecem de achaques que as tornam por vezes
impacientes e difíceis de conviver. Por outro lado, têm a experiência, que segundo
Sartre é mesmo um direito dos velhos.
O
parnasiano carregou nas tintas, sem dúvida. Há em favor dele, digamos assim, a
ressalva que a esses versos faz Rubem Braga numa de suas antológicas crônicas.
Lembra o cronista que, de fato, num poema Bilac considera “vil” a velhice – mas,
num dos seus textos em prosa, afirma desejar “envelhecer sorrindo”. Tal
expressão, longe de indicar ressentimento ou desconforto, sugere uma alegre resignação
com a passagem do tempo.
Talvez o verbo “sorrir” no verso bilaquiano indique mais do que a aceitação do inevitável ciclo vital. Indique também a percepção, trazida pela maturidade, do que a vida realmente é. E, sobretudo, traduza com algum ceticismo a desconfiança nos que se arrogam ter a verdade e deter o poder – tenha este o rótulo que tiver.
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