“Sermões escolhidos”, do Padre
Antônio Vieira, é uma das obras frequentes no vestibular. Nela os alunos têm a
possibilidade de conhecer nosso
maior representante do conceptismo barroco.
A vertente
conceptista opunha-se à cultista, comumente exemplificada em poemas de Gregório
de Matos. No conceptismo privilegiam-se
as ideias, os conceitos, os jogos sutis do pensamento
– enquanto que
no cultismo se dá ênfase aos torneios formais
(excesso de antíteses,
apelo aos contrastes
de cor, criação
de metáforas raras etc.).
O Barroco
oscila entre essas duas tendências e muitas vezes
as associa numa mesma composição. É muito
difícil, nessa escola,
isolar conceito
de forma. A própria
obra de Vieira, que
é considerado um barroco
clássico, demonstra isso.
Grosso modo
o Barroco se caracteriza por uma hipertrofia da forma, um excesso que visa a compensar o vazio de sentido
decorrente de uma profunda crise espiritual.
Vieira escapa ao desencanto
porque tem os pés,
ou melhor,
o espírito plantado no solo do cristianismo.
Seus sermões
são comentários
de passagens bíblicas, que ele
amplifica e interpreta com engenho e paixão.
Os “Sermões”
são sobretudo
um exemplo
da articulação entre
literatura, religiosidade e participação
político-social. Vieira foi um militante que
elegeu a Escravidão como o seu maior inimigo. Por defender os índios, que então se escravizavam e dizimavam aos montes, brigou com
senhores de terra
e com representantes da ala conservadora da Igreja.
E por defender
os cristãos-novos (judeus convertidos ao
cristianismo), chegou a ser
preso pela Inquisição.
O jesuíta passou
à história literária
como um
clássico da língua.
Seus sermões
equilibram a “agudeza” do conceito,
cara ao estilo
barroco, com
a clareza necessária
à persuasão. Como
convencer alguém
das verdades cristãs sendo obscuro e cerebrino? Ou
se comprazendo, como faziam os cultistas,
num jogo por
vezes gratuito
de antíteses e paradoxos?
Essa mania
dos contrastes, ele critica numa passagem do seu
famoso “Sermão
da Sexagésima”: “Se de uma parte dizem luz,
da outra hão de dizer
sombra; se de uma parte
dizem desceu, da outra hão de dizer subiu. Basta que não havemos
de ver num sermão
duas palavras em
paz? Todas hão de estar
sempre em
fronteira com
o seu contrário?”
Depois
de censurar os pregadores
que “fazem o sermão
em xadrez
de palavras”, Vieira dá esta preciosa lição
de como escrever:
“O estilo há de ser
muito fácil
e muito natural.
Por isso,
Cristo comparou o pregar
ao semear. Compara Cristo
o pregar ao semear, porque o semear é uma arte que tem mais de natureza
que de arte.”
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