sábado, 21 de junho de 2025

Conversa com o "Bruxo"


               Aproveito a releitura de “Memórias Póstumas de Brás Cubas” para trocar um dedo de prosa com o seu autor. “Trocarnão é bem o termo, pois quem falou foi Machado. Nossa conversa, além de instrutiva, serviu-me para matar o tédio de um dia sem graça. Espero que tenha para o leitor a mesma serventia:

– O senhor é um autor melancólico. Por que se liga tanto no passado?

– O menos mau é recordar. Ninguém se fie da felicidade presente; há nela uma gota da baba de Caim. Corrido o tempo e cessado o espasmo, então sim, então talvez se pode gozar deveras.

Em sua obra é comum o tema da loucura. Há alguma justificativa para isso?

        – O mundo da lua, esse desvão luminoso e recatado do cérebro, que outra coisa é senão a afirmação desdenhosa da nossa liberdade espiritual?

Por que escolheu ummorto para ser o narrador de “Memórias Póstumas...”?

– A franqueza é a primeira virtude de um defunto. O olhar da opinião, esse olhar agudo e judicial, perde a virtude, logo que pisamos o território da morte.

– De fato, um morto não se importa com o julgamento alheio...

Nãonada tão incomensurável como o desdém dos finados.

          – Por que é tão difícil a franqueza nas relações sociais?

-- A veracidade absoluta é incompatível com um estado social adiantado.

Outro tema recorrente em sua obra é a ambiguidade moral do ser humano. Por quê?

          – O vício é muitas vezes o estrume da virtude.

Até que ponto essa ambiguidade é determinada por fatores externos?

Não se pode honestamente atribuir à índole original de um homem o que é puro efeito de relações sociais.

Apesar disso, transparece na sua obra a ideia de que o homem é fundamentalmente egoísta.

– O nosso espadim é sempre maior do que a espada de Napoleão.

Que conselho o senhor daria a um jovem de hoje?

          – Trata de saborear a vida; e fica sabendo que a pior filosofia é a do choramingas que se deita à margem do rio a fim de lastimar o curso incessante das águas.

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