sexta-feira, 29 de maio de 2020
Notas sobre a pandemia (24)
domingo, 24 de maio de 2020
Notas sobre a pandemia (23)
Houve quem “parabenizasse a natureza” pelo aparecimento do coronavírus, e nada é mais inoportuno (para não dizer desumano) do que uma atitude como essa. Primeiro, por demonstrar insensibilidade com as mortes que a covid-19 vem causando (já basta a indiferença de quem hoje nos governa). Segundo, pela falácia do argumento apresentado. A atual pandemia não veio demonstrar que é imprescindível fortalecer o papel do Estado para evitar a recorrência de tragédias semelhantes. A quantidade de mortes que o Leviatã estatal já provocou, em regimes totalitários, é muito superior à que se deve ao coronavírus. Nada impede que em países capitalistas o Estado se comprometa com a assistência à saúde dos menos favorecidos. O importante é que ele se compenetre do seu papel, deixando de servir aos maus políticos e aos empresários inescrupulosos. A cumplicidade entre esses dois grupos, que alimenta a corrupção, é pior para a saúde do País do que o mais letal dos vírus. Se o vírus ganha terreno (e multiplica as covas), é porque se vêm superpondo as rivalidades políticas à preocupação com a vida das pessoas.
terça-feira, 19 de maio de 2020
Notas sobre a pandemia (22)
quarta-feira, 13 de maio de 2020
Lembrando Celso Cunha
Tive a sorte de por um breve tempo conviver com
ele. Nosso primeiro encontro se deu em João Pessoa, onde Celso viera
participar de um congresso. Deparei-me com uma figura branda, afável e
bem-humorada. Sabendo da sua admiração por José Lins do Rego, convidei-o para
conhecer no Pilar o Engenho Corredor.
Fomos em meu carro, numa manhã de sol, contemplando
à beira da estrada as plantações de cana e conversando sobre assuntos vários
(apesar do ar discreto, ele era um grande conversador). Fez elogios ao autor de
“Menino de Engenho” e “Fogo Morto”, que considerava o mais denso e vigoroso de
nossos regionalistas pela dimensão trágica da obra.
O segundo encontro ocorreu quando fiz o Mestrado no
Rio de Janeiro. Nosso contato dessa vez foi mais extenso, e cheguei a ir
algumas vezes à sua casa em Humaitá. Fiquei impressionado com a enorme
biblioteca, que transbordava do escritório e se prolongava por outros cômodos.
Chamá-lo de bibliófilo é pouco; Celso era um bibliólatra, tal a adoração que
tinha pelos livros. As obras eram encadernadas com esmero e cuidadosamente
dispostas em ambientes livres de ácaros ou traças.
Numa das visitas que lhe fiz, ele chegou a me
indicar mais de um título fundamental para entender a evolução da língua e da
literatura portuguesa (e, por extensão, brasileira). Um deles, lembro-me bem,
foi “Literatura Europeia e Idade Média Latina”, de Ernst Robert Curtius, que
adquiri pouco depois.
Certa vez o encontrei com a sua simpática
esposa, Dona Cinira, num dos elevadores da Universidade Federal Fluminense, onde eu fora inscrever Denise no Mestrado em Língua Portuguesa. Nesse
encontro, fomos convidados para a festa do seu 70º aniversário. Nela ocorreria
o “Pagode do Celso”, um evento promovido por alunos, amigos e colegas – todos,
como ele, adeptos do samba.
Poucos sabiam que o erudito professor, sempre nas
aulas de terno e gravata, era fã desse ritmo popular e tão brasileiro. Vi-o
cantando ao lado de Nei Lopes e de outros membros da Velha Guarda da Portela,
que levou a festa pela madrugada. Tudo isso ao embalo de um bom uísque, que o
mestre também apreciava, e da cachacinha que circulava farta entre os
pagodeiros (o Zeca não desmente a progênie).
Encontrar Celso Cunha foi como se deparar com um
ídolo que a gente se acostumou a admirar de longe. Encheu de emoção o jovem
professor que se iniciara em cursinhos pré-vestibulares e dava os primeiros
passos no ensino universitário. Sou grato ao que aprendi sobre o funcionamento
e as virtualidades do Português na sua “Gramática do Português Contemporâneo"
e nas obras voltadas para o ensino médio, que aliam o conhecimento do idioma à
perícia didática.
Ele foi nosso primeiro gramático moderno. Suas abonações da norma traziam passagens de escritores cuja leitura me estimulava a escrever (Rubem Braga, para citar um exemplo). Celso Cunha me incutiu a percepção de que no dinamismo do presente é que a língua testemunha a grandeza do seu passado.
sábado, 9 de maio de 2020
Notas sobre a pandemia (21)
terça-feira, 5 de maio de 2020
Sem caminho
Num dos seus poemas, Manuel Bandeira fala dos suicidas que se matam sem explicação. Esses são os que mais impressionam. Esconder o motivo pelo qual se chega ao “gesto extremo” aumenta-lhe o enigma e a dramaticidade. Talvez seja a atitude mais coerente, pois não há por que justificar um ato que se explica por si mesmo. Além disso, como acreditar nas razões dos suicidas? Até que ponto eles são capazes de avaliar com lucidez o seu ato?
Alguns deixam bilhetes ou cartas
se desculpando (o que é curioso, pois se o suicida deve pedir desculpas a
alguém é a ele próprio). Esses textos são no fundo um tardio pedido de ajuda ou
uma forma de incriminação.
Há, contudo, os que se matam para
ficar “mais vivos”. Foi o caso de Getúlio Vargas, que antes de atirar no
coração deixou uma carta com a frase célebre: “Saio da vida para entrar na
História”. Ele tinha consciência de
como o seu papel na vida pública foi aos poucos se denegrindo. O único jeito de restabelecer a
imagem era com um gesto que representasse um sacrifício extremo. E qual soaria melhor
do que tirar a própria vida?
O bilhete deixado por Flávio Migliaccio
não contém um pedido de desculpas. Tampouco vale como uma incriminação, pois
ele se refere ao caos político do País e não acusa especificamente ninguém. Sua
acusação tem como alvo a humanidade, que “não teria dado certo”.
Concordo com que a humanidade não
vem se acertando (e nada garante que ela um dia se acerte), mas não sei se há
quem se mate por estar desencantado com ela. O desencanto – por decepção, dor
ou cansaço – é sobretudo consigo mesmo. Dostoiévski, em “Crime e castigo”, escreve
que para viver o homem precisa sentir que vai a algum lugar. O suicida é alguém que chega à dolorosa constatação de que não tem mais para onde ir.
domingo, 3 de maio de 2020
Notas sobre a pandemia (20)
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