domingo, 24 de maio de 2020

Notas sobre a pandemia (23)


Houve quem “parabenizasse a natureza” pelo aparecimento do coronavírus, e nada é mais inoportuno (para não dizer desumano) do que uma atitude como essa. Primeiro, por demonstrar insensibilidade com as mortes que a covid-19 vem causando (já basta a indiferença de quem hoje nos governa). Segundo, pela falácia do argumento apresentado. A atual pandemia não veio demonstrar que é imprescindível fortalecer o papel do Estado para evitar a recorrência de tragédias semelhantes. A quantidade de mortes que o Leviatã estatal já provocou, em regimes totalitários, é muito superior à que se deve ao coronavírus. Nada impede que em países capitalistas o Estado se comprometa com a assistência à saúde dos menos favorecidos. O importante é que ele se compenetre do seu papel, deixando de servir aos maus políticos e aos empresários inescrupulosos. A cumplicidade entre esses dois grupos, que alimenta a corrupção, é pior para a saúde do País do que o mais letal dos vírus. Se o vírus ganha terreno (e multiplica as covas), é porque se vêm superpondo as rivalidades políticas à preocupação com a vida das pessoas.


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O poder da frase