Sempre achei que o homem só é sincero quando mente. Mentir faz parte da nossa natureza. Sem a
mentira não
poderíamos poderia viver
com os outros,
e muito menos
com nós
mesmos.
Há pelo menos um livro que dá razão, ou pelo menos prestígio
filosófico, às minhas suspeitas. Trata-se de “Os Fundamentos
Biológicos e Psicológicos da Mentira”, escrito pelo professor de Filosofia David Livingstone Smith. Segundo o autor,
“mentir é tão
natural quanto
respirar”. Precisamos ser
mentirosos até
mesmo para assegurar nossa saúde psíquica,
pois “quem só fala a verdade corre o risco
de ser doente mental”.
Não se pretende aqui fazer uma defesa
da falsidade e da hipocrisia.
Não temos o direito
de trair ou enganar os outros. A
mentira a que
me refiro é algo
constitutivo do ser humano.
Decorre de ele viver
entre ritos,
convenções, e ter
a percepção de si
e do mundo intermediada pela linguagem.
Como a linguagem nos afasta da essência
das coisas, pois
se engendra a partir de uma relação
arbitrária entre
significado e significante,
ela nos
lança numa teia
de sentidos na qual
é impossível discernir
o ilusório do real.
Por meio
da linguagem, o homem
inventa a si
mesmo.
A partir do momento em que nasce a consciência
linguística, nasce a mentira. Ela
é, por assim,
a grande criação
do discurso. Os sofistas foram os primeiros a descobrir isso. Eles
viram que por
meio da retórica
podiam influir na visão
dos fatos, modificar
a seu bel-prazer
o valor das coisas.
Isso não significa que não existam
verdades essenciais.
O amor, por
exemplo, é uma delas. Não vivemos sem
amor, mas
não conseguimos preservar
esse belo
sentimento dos artifícios
da retórica (ou
seja, da mentira).
A retórica se
infiltrou em tudo
que em
sentido amplo,
graças à energia
criadora do amor, tende a promover
a aproximação do homem
com os seus
semelhantes – de um
bilhete de namorados
ao discurso dos políticos,
passando pelos manuais
de autoajuda.
O que há nesses
textos, senão
promessas que
jamais se cumprem?
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